domingo, 3 de junho de 2012

ACABEI DE APRECIAR O FVLVIA GARAGEM PINOT NOIR 2011!!! VEJA O QUE ACHEI DELE

No ano passado adquiri alguns vinhos en primeur do Atelier Tormentas, de Marco Danielle, e os recebi na semana passada. Dentre eles, claro, o Fulvia Garagem Pinot Noir 2011. Após apreciar o 2009 (clique aqui), fiquei encantado e não poderia deixar passar esse, visto que a produção é pequena e logo será difícil encontrá-lo. E para apreciar um bom Pinot, ao estilo borgonhês, tem que seguir um ritual. Não é só "tufar" o vinho em uma taça qualquer e jogar goela abaixo. Tem que utilizar uma taça apropriada, ter calma, delicadeza e não pensar que está apreciando um Malbecão. No caso do Fulvia, exige ainda mais cuidado, pois o vinho é natural e como tal, deve ser aerado para liberar o CO2 que contém. Por isso, se tiver o prazer de apreciar um desses, coloque no decanter, agite vigorosamente e verá as bolhas se formarem na superfície. Faça isso algumas vezes e só depois aprecie. 
E para mim, vinho pede comida. E como eu estava sem inspiração para cozinhar, resolvi visitar meu amigo Bart, Chef Belga do Restaurante Chez Marcel, que cozinha como ninguém. Bem, mas vamos ao vinho. Ele é feito com a mínima intervenção possível, utilizando leveduras selvagens e com pouca adição de SO2. E que beleza: Só 12% de álcool! Diferentemente do Fulvia 2009, que era 50% maturado em  barricas, esse 2011 é totalmente maturado nelas, e a meu ver, isso lhe deixou ainda mais macio. 
Que cor linda!
Achei o vinho um pouco mais maduro e com mais estrutura que o 2009. Ao nariz, mostra notas de frutas vermelhas, morangos silvestres, especiarias e terrosas (que aparecem com mais tempo em taça). O vinho vai ficando cada vez melhor após decantação. Em boca, é intenso e macio , sutil e elegante (como disse meu amigo Bart, que o adorou. E olha que o Belga tem ótimo gosto, hein!). Tem ótima presença, acidez perfeita, é sedoso e com final persistente. Ou seja: Excelente! Como mencionei para o 2009, o Fulvia Pinot Noir não é apenas o melhor Pinot brasileiro, é para mim o melhor vinho nacional. Claro que é uma opinião pessoal, mas se tiver oportunidade, experimente e me diga. Parabéns Marco Danielle!
E como eu sabia que ia apreciar um ótimo vinho, tive que escoltá-lo com ótima comida. Dê uma olhadinha nessa Terrine de Coelho, que estava maravilhosa e no Filé com Creme de Espinafre feitos pelo Bart. Perfeitos com o vinho! No final da postagem transcrevo texto do Marco Danielle sobre o Fulvia 2011 (Nota do Vinhateiro).


Terrine de Coelho do Bart - Que beleza!
Terrine
Filé ao Creme de Espinafre - Ponto perfeito, como sempre!
Pera à Bélle Hélène - Clássica
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NOTA DO VINHATEIRO (por Marco Danielle)

A safra 2009 desse rótulo foi o vinho de maior repercussão da história do Atelier Tormentas. Quando Ed Motta e Didú Russo declararam ser aquele o melhor vinho brasileiro então produzido, o peso da responsabilidade aumentou frente à expectativa sobre a nova safra. Em 2010 a colheita não alcançou o nível de qualidade esperado, e o vinho não foi feito - dois bons motivos para em 2011 aumentar um pouco o volume produzido e zelar ao máximo pelos resultados. A meta foi alcançada, e o Fulvia Pinot Noir 2011 deverá ao menos se equiparar a seu predecessor - talvez com um leve ganho em acidez e estrutura. Degustado em Julho de 2011, o vinho mostrava um matiz vermelho levemente mais intenso que em 2009, o que traz algumas informações sobre a safra e a vinificação: acidez e estrutura um pouco melhores; maior estabilidade; menor oxidação; menores perdas fenólicas e aromáticas. Contudo, essas mudanças ainda são muito sutis para fazer grande diferença. Sabemos que o caminho é longo e o desafio é grande, e que ainda há muito a aprimorar e a explorar no campo da misteriosa Pinot Noir, mas a busca obstinada por evoluir a cada safra deverá ser administrada com prudência e parcimonia nos novos experimentos envolvendo essa caprichosa casta, de forma a não desvirtuar os traços de delicadeza e personalidade tão apreciados no Fulvia 2009. É mais fácil controlar os resultados quando se faz vinhos tecnológicos, mas em vinicultura natural os controles ficam restritos à estreita paleta de nuances oferecida pela natureza. Ganhar acidez natural pode significar perder teor alcoólico, e assim por diante. Portanto cada novo experimento deve ser feito com prudência, evitando oscilações bruscas que distorçam o objetivo central: elaborar um Pinot Noir de modo mais natural possível, inspirado na elegância, no equilíbrio e na delicadeza de um bom borgonha. O plano para a safra 2011 foi ganhar em estrutura e complexidade sem perder a sutileza. Para isso, parte das uvas foi desengaçada e parte encubada em cachos inteiros, gerando uma fermentação semi-carbônica clássica. Outra mudança radical em relação à safra 2009 é que a partir de 2011 o amadurecimento se dará totalmente em barricas, rigorosamente escolhidas e testadas para neutralidade e sutileza. De 2011 em diante, portanto, o Pinot Noir do Atelier Tormentas será inspirado em alguns métodos ancestrais que pude conhecer pessoalmente na Borgonha. Outra meta para essa safra foi suprimir as leveduras comerciais para a fermentação. Nesse sentido, o Fulvia Pinot Noir 2011 pode ser considerado um vinho ainda mais natural que o 2009, tendo também suprimido a adição de SO2 pré-fermentário. A fermentação foi iniciada e terminada pelas leveduras selvagens provenientes do próprio vinhedo - o que também indica uma provável moderação na política de defensivos agrícolas aplicados às vinhas, sendo preservada a microflora de leveduras indígenas e outros microorganismos incorporados à fermentação. Assim sendo, poderíamos afirmar que o Fulvia Pinot Noir 2011 é fruto de uma vinificação bastante natural.

6 comentários:

  1. Eugênio Oliveirajunho 04, 2012

    Grande Flavio,

    Acho que essa é a primeira resenha de algum novo vinho do Marco e a primeira do Fulvia Pinot Noir. Estou muito curioso para prová-lo, quando fizer te digo.

    Essa terrine tá com uma cara maravilhosa!

    Abraço

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    1. Grande Eugênio,
      Acho que fui mesmo o primeiro a me manifestar. Segundo ele, já recebeu diversos retornos elogiando o vinho. Eu gostei muito. Depois me fala o que achou. Estou curioso também para provar o Rosé e o Branco. Ele me disse que o Rosé é um vinho estruturado e pode envelhecer. Vou beber uma garrafa e guardar outra para daqui um tempo.
      Rapaz, a Terrine estava boa mesmo! Pode deixar que quando vier aqui por São Carlos faremos uma visita ao Chez Marcel.

      Abração!

      Flavio

      ps. Vai na degustação da Decanter?

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  2. Eugênio Oliveirajunho 04, 2012

    Com certeza, mas no Rio!

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    1. Caramba! Mesmo sabendo que lá não estará o Domaine Rolet, Paul Mas e Pieropan???
      Brincadeira...rsrs...
      Abraços,
      Flavio

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  3. Um post escrito com emoção a gente percebe logo no início.
    Bom quando um vinho supera as já grandes expectativas.
    Sou fã confesso da cor dos vinhos e esse exemplar realmente tem uma coloração maravilhosa.
    E com 12% de álcool então...
    Valeu, Flavio!
    Bela postagem.

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  4. Amigo Alexandre,
    Muito obrigado pela visita (de sempre) e pelos comentários gentis. É isso que nos incentiva a dividir nossas impressões com os amigos.
    Realmente este vinho emociona, pela qualidade e por saber que foi feito aqui no Brasil. O Marco Danielle é uma pessoa apaixonada pelo que faz, e seus vinhos são produzidos com todo esmero. Este Pinot Noir impressiona. Se tiver a oportunidade, não deixe de experimentá-lo. Pelo seu gosto apurado, tenho certeza de que vai gostar muito.
    Um grande abraço,
    Flavio

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