quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Que é isso pessoal? NICOLAS CATENA ZAPATA 2008, CHRYSEIA 2000, TONDONIA RESERVA 2000, BERONIA GRAN RESERVA 1995, BERONIA GRAN RESERVA 2001, MANSO DE VELASCO 2008 e VIÑA ALBERDI 2005!!!

Na semana passada a reunião semanal da Confraria do Ciao foi na cozinha do amigo Tom, com seus assados maravilhosos. A turma teve o desfalque do Fernandinho (que errou o dia, pensou que fosse quarta-feira...kkkk) e do Paolão, que está sofrendo lá no Rhone. Bem, mas o amigo Marcelo Margarido, que aparece só de vez em quando, deu o ar da graça.
Vou começar por um grande, ofertado pelo amigo Tonzinho: um Nicolas Catena Zapta 2008. Aqui tratamos de coisa grande. O primeiro Nicolas foi feito em 1997 e desde aquela época tem sido considerado um dos maiores vinhos da América do Sul. Ele é feito com Cabernet Sauvignon das melhores parcelas da vinícola. Quando o Nicolas 1997 foi lançado, em 2000, participou de diversas degustações às cegas na europa, contra Chateau Latour, Haut Brion, Caymus, Solaia e Opus One, e em todas ficou em primeiro ou segundo lugar. O 2008 foi feito com 65% Cabernet Sauvignon e 35% Malbec, dos vinhedos Pirámide, Adrianna, Domingo e Nicásia. A fermentação foi feita em barricas novas de carvalho francês e a maturação também em carvalho francês, por 24 meses. Mirtilo, cassis, ameixa, alcaçuz, chocolate, notas florais e muitas ervas. Aliás, a presença de ervas aromáticas me chamou a atenção. Como disse ao Tonzinho, era como se colocássemos várias delas em uma tábua e sentíssemos os aromas após o corte. Em boca era muito sedoso, refinado, com taninos perfeitos. Um grande vinho! Para me agradar mais ainda, poderia ser um pouquinho menos doce. Lembrou-me um pouco o ladinho doce de alguns vinhos americanos. Mas vou fazer uma crítica a nós, confrades: Este vinho está muito novo! Ficará mais integrado em alguns anos. Diferentemente de grandes bordeaux, que em sua juventude são fechados, nervosos, e precisam de tempo para se abrirem e serem domados, o Nicolás já é macio, mas a meu ver precisa de tempo para integrar melhor suas virtudes.  Cometemos (mais) um pecado...rs. Quero beber um desse mais velhinho... 
O JP levou um ótimo Beronia Gran Reserva 1995. Um vinho já senhorio, cor e aromas de cereja ao marrasquino. Já no seu ápice. Os aromas de cereja se misturavam a notas de tabaco e alcaçuz. Em boca, muito redondo, gostoso, mas com baixa acidez. Vinho muito bom, embora unidimensional, talvez já pela idade. Se tiver um desses, beba logo, e vai se divertir. 
E como eu sabia que o JP ia levar o 95, resolvi levar o irmão dele, o Beronia Gran Reserva 2001. Este eu já comentei aqui no blog (clique aqui), e nem vou colocar a foto. Embora fosse patente o DNA do produtor, o 2001 estava bem mais vivo e rico. Destaque para as notas de cereja preta, tostadas, balsâmicas, couro e alcaçuz. Ah, e um fundinho de mel discreto e interessante. Vinho muito redondo e sedoso. Uma delícia! Talvez seu irmão de 95 fosse assim alguns anos atrás. Foi divertida a comparação.
Nosso confrade esporádico, mas muito querido, Marcelo Margarido, levou um grande Chryseia 2000. Eu fiquei curioso com ele, pois havia apreciado um Chryseia 2006 tempos atrás, que se mostrava novão, e queria beber um desses mais antigo. No entanto, o que vi foi um vinho completamente diferente do 2006. O 2000 é muito mais ao estilo austero, tradicional, menos moderno. O vinho é feito com Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Cão. A fermentação ocorreu em inox e a maturação por apenas 8 meses em cascos de carvalho francês (400 litros). Nos mais recentes o tempo passou para 12 meses. Sua cor, influenciada pelo tempo, mas também característica que o difere dos atuais, é mais clara, tendendo à cereja. Ao nariz, o lado floral da Touriga Nacional não se destaca tanto. Nada de fruta muito madura e excessos. Notas de cereja e framboesa se mesclavam a notas de couro e cedro. Em boca, era seco, com taninos corretos e um fundinho de madeira no tanto certo. Um vinho distinto, diferente das novas tendências. No começo, causou-me até certa estranheza, pois esperava um Chryseia parecido com o 2006 que havia apreciado, mas com o tempo, foi mostrando categoria. Aqui se vê a influência bordalesa de Bruno Prats (Cos d'Estournel). Vinhão, Marga!
E nosso amigo Rodrigo não deixou por menos e levou um riojano de peso: Tondonia Reserva 2000. Esse eu já levei uma vez prá turma (clique aqui). Falar de Tondonia é chover no molhado, pois é grande vinho sempre. Se você quer beber Rioja tradicional, experimente um deles. É elaborado com leveduras indígenas, maturado em barricas usadas de carvalho americano por longos anos (6 anos este Reserva), clarificado com claras de ovos e submetido a inúmeras trasfegas. A cor já é particular, lembrando um borgonha. Ao nariz, notas de cereja, cítricas e de especiarias. Em boca, taninos domados pelo tempo e acidez correta. Uma beleza, sempre! E amado pela nossa turma.
E não contente, o Tonzinho foi na adega e ainda trouxe um Manso de Velasco 2008. O Tonzinho não estava para brincadeira. Esse vinho é um dos meus chilenos preferidos. Já comentei aqui sobre o 2006, que me agradou muito. A assinatura do vinho estava também neste 2008. É um vinho com muita fruta madura (mirtilo, ameixa, cassis) compotada (mas sem incomodar), chocolate e alcaçuz. É cheio de camadas e vai mudando com tempo em taça. Em boca é amplo, vivo, mastigável, e com taninos doces e sedosos. Um vinho excelente e que merece mesmo ser sempre considerado um dos melhores Cabernet Sauvignon do Chile sempre, no Guia Descorchados.
O Caião levou o irmão menor dos grandes La Rioja Alta, o Viña Alberdi 2005. O vinho é uma boa introdução aos vinhos desta tradicional vinícola Riojana. Já comentei aqui sobre o Gran Reserva 904 1994, que bebemos esse ano e estava maravilhoso. O Alberdi é feito majoritariamente com Tempranillo e aquelas pitadinhas clássicas de outras uvas que lhe aportam mais peso, cor e acidez. O envelhecimento é o tradicional, em barricas de carvalho americano por 24 meses, o que aporta a característica baunilha, já evidente nas primeiras cafungadas. O primeiro ano é em barricas novas e o segundo em barricas de 3 anos. A cereja se mostra entre notas de café com leite, leve balsâmico e cítricas leves. Em boca é muito sedoso, com boa acidez e taninos muito redondos. É um vinho muito bom, que mescla tradição e modernidade, e que parecia ser mais novo.
Bem pessoal, e foi isso. Muito vinhobão! Como sempre...
A turminha reunida...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SOBREVOANDO TORMENTAS 2012: VOANDO ALTO - Pacote fechado com os 6 melhores vinhos ainda disponíveis no Atelier Tormentas!


Estimados leitores, abaixo descrevo uma nova oferta especial do Atelier Tormentas, de Marco Danielle. Quem tiver a oportunidade, não pode deixar de aproveitá-la, pois seus vinhos são únicos. Fuja do convencional: Experimente os vinhos Tormentas! Siga as recomendações do Marco Danielle para o consumo e verá que são vinhos especiais. Adaptei o texto para a postagem, mas o texto original pode ser encontrado aqui.
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Cerca de uma vez por ano o Atelier Tormentas oferece uma caixa mista com valor super reduzido, incentivando os clientes a apreciar uma das maiores virtudes da vinicultura natural: a surpreendente evolução dos vinhos ao longo do tempo. É, igualmente, um incentivo à divulgação de seus vinhos junto aos enófilos que ainda não tiveram a oportunidade de prová-los. Este "sobrevôo 2012" reúne apenas os vinhos de maior valor e reduz drasticamente os preços, proporcionando a todos uma oportunidade de conhecer o melhor do trabalho de Marco Danielle. Aos que provaram esses vinhos muito cedo, eis um convite para voltar a degustá-los hoje, refinados pelo tempo.

 PRELÚDIO 2007 - Um dos 3 vinhos de maior sucesso da história do Atelier Tormentas

Para a edição 2012 da oferta "Sobrevoando Tormentas" o Atellier adquiriu um lote de Prelúdio 2007, vinho há muito esgotado para a venda em seu site. Às cegas considerado um bordeaux clássico à moda antiga por muitos especialistas, o Prelúdio 2007 arrancou elogios de Guilherme Corrêa, eleito duas vezes melhor sommelier do Brasil. Longamente elogiado na imprensa pelo músico Ed Motta, obteve a unanimidade da crítica como nenhum outro vinho do Atelier Tormentas, sendo o responsável pelo artigo em que o vinicultor e restaurateur parisiense Mark Williamson declara o Brasil como "mais uma nação capaz de produzir grandes vinhos". Nesta caixa mista com excepcional desconto, o Atelier tem o prazer de incluir uma rara garrafa de Prelúdio 2007.

ATENÇÃO: esta oferta estará disponível por tempo limitado, sujeita à pequena quantidade disponível. Não há limite de caixas por comprador.  

O PACOTE FECHADO É ASSIM COMPOSTO:

 Tormentas Premium 2006 (Pinot Noir + Tannat + Merlot) - 14,8 % vol.
(presença de SO2 insignificante)

Prelúdio 2007 (Cabernet-Franc + Cabernet-Sauvignon + Merlot) - 12,7% vol.
INDISPONÍVEL FORA DESTE PACOTE FECHADO
(sem traços de SO2)

Tormentas Premium 2007 (Merlot) - 12,6 % vol.
INDISPONÍVEL FORA DESTE PACOTE FECHADO
(sem adição de SO2 em nenhuma das etapas de vinificação)

Tormentas Ius Soli Garagem 2008 (Cabernet-Sauvignon + Merlot + Alicante) - 13,0 % vol.
(presença de SO2 insignificante)

Tormentas Fulvia Garagem 2010 (Cabernet-Franc) - 12,0 % vol.
(sem adição de SO2 em nenhuma das etapas de vinificação)

Tormentas Fulvia Garagem 2011 (Pinot Noir) - 12% vol.
(adição de SO2 moderada)


Preço normal da caixa 820,00 (+ frete)
Desconto Oferta Especial "Sobrevoando Tormentas": -328,00
Preço final: 492,00 (+ frete)


Nota de Marco Danielle.: De todos os vinhos que elaborei, o Prelúdio 2007 é o mais impressionante em termos de paleta aromática. A presença de sulfitos no vinho engarrafado (incluindo o SO2 naturalmente gerado pela fermentação) é próxima de zero, portanto estamos à frente de um vinho radicalmente sem conservantes. Sua assinatura aromática é típica de um vinho natural em toda autenticidade, transbordando "sous-bois" e notas animais. Para inspirar a degustação desse vinho, sugiro com entusiasmo a leitura do artigo Compreendendo o Espírito dos Bosques.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

NÃO é só COMER FILET, tem que ROER OSSO também: VINHOBÃO teve seu dia de TORO LOCO

Bem, depois de todo o auê feito em torno no Toro Loco 2011, dividi com um amigo uma compra e abri uma garrafa nessa última sexta-feira para ver qual era a dele. Claro que não poderia nutrir expectativas por um vinho que custa menos de 4 libras lá fora, e que chegou aqui por bons 25 Reais. Mas considerando que uma turma lá no Reino Unido havia premiado o danado, o colocando à frente de vinhos 10 vezes mais caros (?), resolvi encarar o taurino. Bem,  o vinho tem cor rubi-violácea, aromas frutados de cereja fresca e groselha, com um toque floral. Em boca é leve e a acidez é boa, fazendo dele um vinho fresco. Os taninos se fazem sentir um pouco, fruto da juventude. O final de boca mostra um amargor que me incomoda. Aliás, amargor que não me incomoda, é o de Amarone. Aqui vale uma nota: A percepção do amargo depende de características genéticas e bioquímicas, e varia entre as pessoas. Desta forma, o que pode parecer amargo para uma pessoa, pode não ser para outra. Aliás, é uma das práticas legais da disciplina fisiologia. Voltando ao vinho, com comida ele melhorou um pouco (bem pouco). O vinho é leve e completamente unidimensional - Não muda um milímetro com tempo em taça. Aliás, vai piorando, como previsto para um vinho simples.  Por outro lado, falta-lhe alma e tipicidade espanhola. Eu, que gosto e costumo beber frequentemente vinhos espanhóis, não seria capaz de reconhecer sua nacionalidade, de maneira alguma. 
De resto, por 25 pilas, não esperaria mais. Ou melhor, por esse preço dá prá comprar um Clos de Torribas Crianza, que lhe supera, ou com mais uns reaizinhos, compro em São Carlos o português Cicônia,  o Flor de Crasto e outros com mais estrutura e que dão mais prazer. Mas isso não quer dizer que o Toro seja um vinho ruim e para jogar no ralo. Dá para beber e o preço está de acordo com o que ele oferece. E só!

Tenho algumas hipóteses para tentar explicar o alarde que os caras no Reino Unido fizeram em cima dele:


1. Os caras estavam indo para uma degustação de Whiskys e entraram por engano em uma de vinhos;
2. Os caras já estavam "mamados";
3. Os vinhos que o Toro enfrentou tinham acabado de chegar de viagem, trazidos na caçamba de uma camionete com a suspensão quebrada, sob o sol do meio-dia, ou...
4. Era um Caballo, não um Toro, que beberam!!! rsrs... 

sábado, 20 de outubro de 2012

AS SALVAGUARDAS miaram: Há mesmo tanto motivo para COMEMORAR?

Notícia de hoje em jornal de grande circulação menciona que o governo brasileiro desistiu das famigeradas salvaguardas ao vinho nacional. E agora, serão enxurradas de postagens sobre o tema. Bem, e estou eu aqui contribuindo para isso. Mas tenho minhas dúvidas se há tanto motivo assim para comemorar. Eu sempre me manifestei contra às salvaguardas, por achar que não resolveriam o problema, pelo contrário, traríam mais. Por outro lado, sempre disse que não sou favorável ao boicote ao vinho nacional, embora compreenda a revolta de muitos colegas. Nesse período conturbado, continuei apreciando "bons vinhos nacionais", como os de Marco Danielle, pelos quais nutro  grande admiração. E voltando às minhas dúvidas quanto às comemorações, fico aqui pensando com a minha taça que continuaremos a pagar muito caro pelo vinho nacional, assim como pagamos pelo importado. E me questiono: O vinho nacional melhorará? Terão identidade ou continuarão (em sua maioria) no caminho da internacionalização? Deixarão de chamar de vinho "icone" aqueles que são feitos aos milhares, como bem alerta meu amigo Carlão? Valorizarão mais o conteúdo do que a garrafa? Os pequenos produtores serão valorizados? O brasileiro primará pela qualidade em vez da quantidade? Bem, uma coisa é certa, o absurdo das salvaguardas não passou, o que já é muito bom. Por outro lado, Toros Locos da vida poderão ter sua investida dificultada. E com isso, eu concordo. Aliás, logo postarei sobre ele...(rs) - Para não dizer que não falei das flores... (essa é só para os antigos...).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

TORMENTAS ROSÉ GARAGEM 2011: Para uma tarde quente de verão

Não preciso repetir que sou fã dos vinhos de Marco Danielle. Todos que bebi até hoje me deixaram felizes. É só buscar aqui no blog FULVIA, e verá do que estou falando. Mas dessa fez, o vinho apreciado foi o Tormentas Rosé Garagem 2011, uma tiragem especial que foi vendida apenas en primeur. Apenas 270 garrafas foram produzidas. Segundo o próprio Marco "tamanha é a familiariedade com um vinho francês (origem da casta), que lhe resulta difícil, ainda que de longe, apreciá-lo sem fechar os olhos e contemplar o panorama ao alto das colinas de Sancerre, com seus vinhedos a perder de vista". É um Rosé feito com Pinot Noir vinificada em branco, com cor de laranja-sangue... O vinho utiliza leveduras enológicas em sua fabricação, mas em interação com as selvagens. Não há adição de SO2 no engarrafamento, não é filtrado, nem sofre colagem. É um rosé fresco, leve, mas com presença. Além da fruta silvestre, tem um toquezinho de tabaco bem gostoso. Gostei muito dele. Aliás, não sei se era o correto, mas fiz o mesmo que geralmente faço com o FULVIA PINOT NOIR, colocando em decanter e aerando. Acho que funcionou da mesma forma. Que ótimo que pude desfrutar de uma destas poucas 270 garrafas produzidas. E ainda tenho uma garrafa que vou guardar. Segundo o Marco, diferentemente da maioria dos rosés, este pode ser guardado e deve evoluir. Abaixo coloco texto do vinhateiro, que consta no site do Atelier Tormentas.
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NOTA DO VINHATEIRO (Marco Danielle)

Segundo rosê de Pinot Noir do Atelier Tormentas, feito sem objetivos comerciais, apenas para o deleite do vinhateiro que vos escreve. O primeiro foi da safra 2009, mesmo vinhedo, praticamente o mesmo vinho. O que muda em 2011 é a fermentação mais completa, gerando um vinho levemente mais seco, com menos doçura residual que em 2009. Ou seja, um pouco mais de "nervo" - tão importante para um rosê de caráter, mais clássico e mais gastronômico. Dos vinhos que fiz, considero esses dois rosês entre meus preferidos para o dia a dia, pela leveza que dá muito prazer. Pena o desprezo que sofrem os rosês, mesmo junto ao segmento melhor informado do público. Por certo há muitos rosês comerciais "mudos" ao redor do mundo (porque pesados e alcoólicos), que contribuiram para o preconceito generalizado, mas um rosê de estilo europeu e gastronômico, leve e fresco, pode proporcionar uma explosão de encanto. Rosês feitos com alma, a partir de grandes matérias-primas, podem significar finas vinicações em branco feitas com uvas tintas. No caso de um rosê de Pinot Noir, os resultados podem ser de uma delicadeza e de um requinte impressionantes. Esse é o espírito em que o Tormentas Rosê Garagem 2011 foi elaborado, e é essa delicadeza e expressividade que quero compartilhar através desse Pinot Noir vinificado em branco, de uma sutil cor "casca de cebola". A exemplo do branco 2011, o rosé 2011 será compartilhado com poucos clientes e amigos. A exemplo do branco, igualmente, esse rosê inspira-se na incursão pelos porões gelados dos vinhos naturais do Loire e da Borgonha, que fortemente o influenciaram. Tamanha é a familiariedade com um vinho francês (origem da casta), que me resulta difícil, ainda que de longe, apreciá-lo sem fechar os olhos e contemplar o panorama ao alto das colinas de Sancerre, com seus vinhedos a perder de vista.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

VINHOS CHILENOS SÃO DESTAQUE NA WINE SPECTATOR: ALMAVIVA 2009 LEVOU 96 PONTOS! SEGURA...

Figura extraída do site da vinícola
Bem, e se você é um dos incomodados com o aumento constante de preços dos vinhos chilenos, pode continuar preocupado: A Wine Spectator acabou de soltar uma edição do Insider na qual figuram vários chilenos com ótimas notas. E se o Clos Apalta e Don Melchor eram os únicos chilenos a terem obtido uma nota 96, a maior nota dada a um vinho chileno, não são mais: O Almaviva 2009 também levou 96 pontos, assim como o grande Montes Alpha M 2010, e o próprio Clos Apalta, da safra de 2009. Outro bem avaliado foi o Syrah Montes Folly 2010, com 95 pontinhos. 
E no campo dos "mais baratos" (rs), destaque para o Alfa Centauri e o Blend de Fournier, ambos 2008,  com 93 pontos. O Carmenére Tierras Moradas 2008, das Viñas San Pedro, também levou 93 pontos, assim como o Purple Angel 2010, de Montes (que tem precinho salgado). Os vinhos da Casa Lapostolle também foram bem avaliados, como sempre, com destaque para seus Cuvée Alexandre (tanto de 2009 quanto de 2010), que são realmente muito bons. Bem, agora é tirar o escorpião do bolso ou ponderar se vale a pena pagar tão caro por eles aqui no Brasil. A discussão vai longe, mas para acirrá-la, dê uma olhada no preço de alguns ótimos franceses, espanhóis e italianos disponíveis no mercado. E olha que esses vinhos já chegam aqui com preços bem salgados. Ninguém discute a qualidade dos grandes chilenos agraciados, o que confesso me deixa feliz, mas...
Abaixo coloco a avaliação da WS para os vinhões citados acima. Ah, e com o preço que se compra nos EUA, para dar tristeza...

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VIÑA ALMAVIVA Puente Alto 2009
96 points | $100 | 12,500 cases made | Red
Classically built, with a compact and fine-tuned frame giving way to rich cassis, black cherry reduction, fig paste, spice box and licorice notes woven with fine tannins, juicy acidity and a firm minerally spine. The finish reverberates the focused flavors, but should expand with mid-term cellaring. Cabernet Sauvignon, Carmenère, Cabernet Franc and Merlot. Drink now through 2020. 

CASA LAPOSTOLLE Clos Apalta Colchagua Valley 2009
96 points | $90 | 6,361 cases made | Red
A gorgeous wine that deftly balances polished cassis, dark cherry reduction and blueberry notes on a compact frame. This is structured, with silky tannins lining the long finish that lingers on with hints of apple wood, spice box and underbrush. Carmenère, Cabernet Sauvignon and Petit Verdot. Best from 2014 through 2020. 

VIÑA MONTES Alpha M Santa Cruz  2010
96 points | $90 | 500 cases imported | Red
Beautifully concentrated, with a floral undertone to the rich yet racy wild berry, cassis and damson plum skin fruit character that’s tightly wound around fine tannins. The finish is long and compact, but this needs time in the cellar to fully shine. Best from 2014 through 2020. 

VIÑA MONTES Folly Santa Cruz 2010
95 points | $90 | 250 cases imported | Red
This dense red delivers cream-tinged layers of blackberry coulis, cassis and plum sauce backed by well-integrated tannins and fresh acidity. Compact now, with fine spice, smoke and licorice notes gracing the long finish. Syrah. Best from 2014 through 2020. 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

CADUS Malbec Blend of Vineyards 2008, HERDADE do PESO Colheita 2010 e ADEGA do BORBA Reserva 2008: 3 bons vinhos para uma sexta-feira a tarde!

Em uma sexta-feira de duas semana atrás o Caião me ligou dizendo que estava na Mercearia 3M tomando um vinhão. Fui lá para conferir e quando vi, era uma reunião extraordinária da confraria, com a presença do Caião, Tom, JP e Rodrigo. Já estavam bebendo um Cadus Blend of Vineyards 2008, da Nieto Senetiner. O vinho é um Malbecão feito com videiras de 3 vinhedos diferentes, cultivados em diferentes altitudes, como mostrado no rótulo. O produtor cita que as uvas de Vistalba lhe aportam estrutura, cor, bons taninos e teor alcoólico, o que lhe favorece a guarda. As de Agrelo, aromas de fruta madura e o de Vistaflores, acidez mais elevada e notas especiadas. O vinho matura por 12 meses em barricas francesas de tostado médio. É bastante aromático, com notas de figo, ameixa, cereja preta e alcaçuz. Em boca é amplo e muito sedoso. Não exagera na doçura e pede outra taça. Um ótimo Malbec! Foi o melhor vinho da tarde.
Depois dele, passamos para um alentejano, o Herdade do Peso Colheita 2010. O vinho, da gigante Sogrape, é feito com Aragonez (70%) e Alfrocheiro (30%). Eu gosto de ambas! A Alfrocheiro dá uma estrutura ótima para o vinho. Lembro de ter bebido um 100% Alfrocheiro 2000 da mesma Herdade do Peso, que estava ótimo. Quanto a este colheita 2010, os aromas são de amoras maduras em meio a toques balsâmicos, baunilha, café e alcaçuz. Em boca era muito redondo, amplo e sedoso. Pode até parecer um pouco doce, mas com o tempo em taça tudo fica mais integrado e o vinho se mostra muito elegante. Eu gostei bastante dele e acho que daqui a uns 2 anos estará melhor ainda. 
O terceiro e último vinho foi outro alentejano, o Adega do Borba Reserva 2008. É o famoso com rótulo de cortiça, feito com Aragonez, Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet. Segundo o site da vinícola, o vinho matura por 12 meses em barricas de carvalho de terceiro e quarto uso e também em tonéis de madeira exótica (?). Ao nariz mostra notas de framboesas, baunilha e especiarias. Em boca, mostra boa acidez e taninos sedosos. A turma achou um pouco "ralinho", mas penso que foi em decorrência de o termos apreciado após o Herdade do Peso, que tem mais peso...rs. O Borba é mais gastronômico e pede comida (portuguesa, claro). 
Ótima happy hour, pessoal! Padrão, Confraria do Ciao, lógico!

MUGA BRANCO Fermentado em Barricas 2006: Par perfeito para um bacalhau!

A discussão sobre qual é o vinho mais adequado para acompanhar pratos com bacalhau é antiga. Os portugueses geralmente não admitem que não seja um bom tinto. Há alguns anos eu também era assim, até ler um artigo do saudoso (mesmo) Saul Galvão, no qual ele sugeria um bom branco barricado. Por outro lado, José Osvaldo Albano do Amarante, em seu indispensável "Os Segredos do Vinho Para Iniciantes e Iniciados", indica o ótimo Conde de Valdemar Fermentado em Barricas como acompanhante para o bacalhau. Depois que eu experimentei com esse vinho, fiquei fã e mudei o meu conceito de que bacalhau pede vinho tinto. É claro que depende muito de como o bacalhau é feito, mas em geral, eu o aprecio com vinho tinto leve, com pouco tanino ou com um bom branco barricado. Desses últimos já apreciei com o citado Conde de Valdemar, Angelica Zapata Chardonnay, Borgonhas, dentre outros.
E nesse último sábado, fiz um bacalhau para a digníssima, que adora, e abri um Muga branco Fermentado em Barricas 2006. Eu sou fã dos vinhos dessa vinícola riojana, que faz excelentes tintos (clique aqui). Mas ainda não tinha experimentado o seu branco. Ele é feito com Viura (90%) e Malvasia (10%). A fermentação é feita em barricas de carvalho francês e depois de finalizada, o vinho permanece sobre as lias por 3 meses antes de ser engarrafado. Esse 2006 já estava com uma cor dourada bonita e ao nariz mostrava notas de pêssego, nespera, florais, amêndoas, baunilha e um fundinho de mel. Em boca mostrava ótima acidez, um fundinho amanteigado (sem exagero) e aquele toquezinho de jerez, para o qual muita gente torce o nariz, mas que eu adoro. Foi par perfeito para o bacalhau. Ele fica abaixo do Conde de Valdemar, mas é um bom vinho, e pelo preço é uma boa pedida. Beba em temperatura por volta de 11-13 graus, pois picolé de vinho branco barricado não é legal!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Quinta dos Carvalhais Colheita 2008: Dão típico, muito bom!

Tenho bebido poucos vinhos do Dão - Muito menos que queria, ou até, deveria, pois são vinhos que muito me agradam. Eles têm aromas e gosto de vinho, algo meio difícil hoje em dia...rs. Por outro lado, costumam ter bons preços em comparação com seus balados colegas do Alentejo e principalmente, Douro. 
Mas nessa quinta-feira matei a vontade e abri um Quinta dos Carvalhais Colheita 2008. A Quinta dos Carvalhais foi adquirida em 1990 pela gigante Sogrape, e produz belos vinhos no Dão. Este em questão é feito com Touriga Nacional, Trincadeira e Alfrocheiro, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano. Tem uma cor rubi bonita e aromas finos de violeta, groselha, amora, baunilha e chá preto.  O álcool, no começo, aparece um pouco, mas depois tudo fica mais integrado. Depois de algum tempo em taça vão surgindo notas gostosas de alcaçuz e o vinho remete a vinhos do Rhone. No entanto, em boca é um típico Dão, com acidez vibrante e taninos firmes. Quem não está acostumado, ou gosta de vinhos mais doces, com mais extração, pode estranhar. Eu gosto muito de vinho assim, estilão bem gastronômico. No caso deste colheita, vale a pena decantar porque ele ganha com aeração, e apreciar com uma leitoa à pururuca... Vinho recomendado.
A propósito, eu adquiri o vinho na Mercearia 3M, do amigo Idinir. Sua importadora é a Zahil.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

CASA MARIN SAUVIGNON CIPRESES VINEYARD 2009 e LOUREIRO MUROS ANTIGOS 2010: Dois ótimos brancos para uma tarde quente!

Nesse último domingo quente, quase que febril, preparei uns petiscos para receber meu amigo Marcelinho Vascaíno para uma happy hour. O cara voltava de uma viagem de 3 meses em paises horrendos da europa. Um sofrimento só, coitado... Bem, e ele também me trazia uma pequena encomenda na mala, bem pesadinha, cuja foto coloco no final da postagem.
E para celebrar sua vinda e driblar o calor, um Casa Marin Sauvignon Blanc Cipreses Vineyard 2009. Este vinho é um colecionador de elogios, sendo considerado por muitos um dos melhores Sauvignon Blanc do Chile. E olha, é sim! O vinho é bem aromático, mas sem exagero. Mescla muito bem a fruta e o mineral. Notas de pera, pêssego, grama cortada, lima e giz. E com o tempo, mostrava toques florais bem legais. Em boca, muita presença, mineralidade e frescor. Tudo correto! Uma beleza de vinho. Para mim, é mesmo um dos melhores Sauvignon do Chile. A propósito, ele dividiu com o LabeRinto 2007, de Ribera del Lago, o título de melhor branco do Chile no Descorchados. Apreciei os dois, e a parada é dura. Mas confesso que o Marin fez mais a minha cabeça pela grande harmonia.
E logo em seguida, abri um Loureiro Muros Antigos 2010, vinho verde feito pelo craque Anselmo Mendes. O vinho não tem a mesma pujança do anterior, mas também é muito bom. Lembrando que custa menos da metade do primeiro. É um vinho feito com a uva Loureiro, com amadurecimento em inox e que traz aromas gostosos de nectarina, maçã e leve favo de mel. Em boca é redondo, correto e com bom frescor. Um vinho muito bom para bebericar e que dificilmente não vai agradar. 

Ah, e para quem estava curioso para saber o que o amigo Marceleto trouxe, veja a foto abaixo. Só amigo mesmo para ficar puxando uma mala com tanto peso, em todos os sentidos.
Só um amigão para trazer uma mala com esta turma de peso! Da esquerda prá direita: Vega Sicilia Reserva Especial (blend dos Únicos 1991, 1994 e 1999); Silex 2004 de Didier Dagueneau (um dos 1001 vinhos para se beber antes de morrer...rs); Trasnocho 2006; Pago de Carraovejas Reserva 2007; Abadia Retuerta Pago Negralada 2009 (um bebê...rs); San Vicente 2008 e Qué Bonito Cacareaba 2009, o grande branco de Benjamin Romeo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CHEVERNY Le Vieux Clos 2010, GRANTOM Reserva 2001, CARTUXA Reserva 2007, QUIMERA 2009, DÉCIMA Tannat 2005 e um Torribinha ao final...

Há duas semanas, a noite estava quente, mas a turma não perdoou: Só eu levei um branquelo para refrescar. O restante do pessoal mandou ver nos tintões. 
Eu havia provado o Cheverny Le Vieux Clos 2010, do Domaine du Salvard, no Decanter Wine Show 2012 e gostado muito do seu frescor. Levei o danado e para acompanhar uma fatia de Cablanca, que fez par perfeito. O vinho é feito com 85% Sauvignon Blanc e 15% Chardonnay, e não passa por madeira. É rico em notas de lima, anis e minerais. Possui acidez vibrante e é muito fresco. Ótimo para acompanhar o Cablanca.
O amigo Paolão levou um português que eu não conhecia, nem de nome. É o Grantom 2001, da Real Companhia Velha. O vinho é um regional Trás-os-Montes, raro, dificil de encontrar, e feito com Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Touriga Franca. A maturação é feita por 18 meses em barricas de carvalho português. É um vinho exuberante ao nariz, rico em notas de ameixa, cassis e amora, em meio a baunilha, tabaco, chocolate e um tostado aparente ao fundo. Em boca é amplo, seco e com taninos presentes. A madeira faz-se sentir à boca. É um vinho grande, próprio para comida mais pesada e não é para todos os paladares. Valeu Paolão!
Seguimos então com um vinho levado pelo Caião, e que ficou ali no top da noite: O Cartuxa Reserva 2007. Já comentei aqui (e aqui) sobre este vinho e não precisarei gastar mais linhas com ele, que é um vinhaço e agrada sempre. Cartuxa Reserva é sempre certeza de sucesso! Isso aí, Caião!
O amigo Rodrigo levou um Quimera 2009, da grande vinícola argentina Achaval Ferrer. Este vinho já frequentou algumas vezes as reuniões da confraria, inclusive um 2003 já foi ofertado pelo próprio Rodrigo e um 2007 pelo amigo Paolão (clique aqui). O vinho, feito pelas mãos do talentoso Roberto Cipresso, é um corte de 31% Malbec de Medrano e Luján de Cuyo, 20% Merlot deTupungato, 27%  Cabernet Sauvignon de Medrano e Tupungato, 18% Cabernet Franc de Tupungato e 4% Petit Verdot. As videiras são de baixo rendimento (pouco mais de 1 kilo por planta) gerando 18 hectolitros por hectare. A maturação é feita em barricas de carvalho francês (40% novas e 60% de segundo uso). Os Quimeras são sempre ótimos vinhos, mas para mim, não para serem bebidos jovens. E nem sem decantar um bom tempo (como recomendado pelo produtor). Tomando-o jovem, rápido, e sem decantar, não lhe damos o tempo para mostrar todas as suas qualidades. Este 2009 mostrava riqueza aromática, com notas de amora, cereja, mirtilo, anis e café-com-leite. Em boca, potente, um pouco doce, e com taninos sedosos. Mas como citei acima, foi uma pena termos bebido jovem demais e sem decantar. Acabou não fazendo muito sucesso por isso. Mas daqui a uns 2-3 anos o danado se mostrará.
O JP levou um que já nos ofertou e que também já comentei aqui no blog (clique), o brasileiro Décima Gran Reserva Tannat 2005. É um ótimo vinho e que tem feito sucesso em eventos. Eu gosto dele. Acho que o JP deveria ter levado embrulhado para ouvir elogios da turma.
E para terminar, o Tonzinho levou um sempre justo Clos de Torribas Crianza 2008. Este vinho é para mim, um dos que oferecem mais pelo preço dentro de sua faixa. É baratinho e se você abrir em uma festinha, vai fazer sucesso. Também ótimo para o dia-a-dia.
Isso aí! A noite acabou!


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

NORTON PRIVADO 2008: Vinhão potente e que pode ser guardado!

O nosso confrade Tom de vez em quando se candidata ao troféu "Rabo Amarelo", mas quando a gente menos espera ele se recupera e foge do C4. Foi o caso do Norton Privado 2008, levado por ele na noite em bebemos o Liguai, da Perez Cruz (clique aqui). O vinho é feito com Malbec, Merlot e Cabernet, e passa 16 meses em barricas novas de carvalho francês. Ele mostra aromas muito ricos, com notas de ameixa, amora, cassis, anis e café com leite. Em boca é potente e levemente doce (o que melhorou com o tempo em taça, quando tudo ficou mais integrado). Os taninos são redondos, sedosos, e o final bem longo. Um vinho com potencial de guarda e que acredito deverá ganhar muito com ela. Se tiver um, e também paciência, guarde para aproveitar melhor. A propósito, fora do Brasil o vinho se chama Norton Privada... Bem, a mudança de nome aqui tem lá sua razão...rs. Vi que especificamente este 2008 foi muito elogiado pela WS, ganhando 92 pontos. Bem, ele faz bem o gênero americano, com potência, muita fruta etc.
Quanto ao custo, vi a bom preço em uma loja  (aqui - mas acho que é o da safra 2009). Em outros lugares chega a custar até 50% mais.

Nota: Nessa mesma noite apreciamos o Liguai 2007 e o uruguaio Ysern Tannat-Tannat 2007, mas este último não agradou, e não comentarei sobre ele.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

PEREZ CRUZ LIGUAI 2007: Muito bom no primeiro dia, melhor ainda no segundo!

Um amigo me recomendou há tempos os vinhos da vinícola chilena Perez Cruz. Eu nunca havia tido a oportunidade de provar um, até que encontrei este Perez Cruz Liguai 2007 a um bom preço em uma loja no sul. O vinho, de gama superior da vinícola, é um corte de 40% Syrah, 30% Cabernet Sauvignon e 30% Carmenére. A maturação é feita por 16 meses em barricas novas de carvalho francês. Sua cor é muito bonita, rubi escura bem brilhante, e seus aromas muito ricos, com notas marcantes de cereja preta, cassis, mirtilo, mentol, café e alcaçuz. Confesso que o álcool, do alto de seus 14,5%, se destacou um pouco ao nariz. Mas nada que incomodasse (e que o tempo não resolva). Em boca o vinho é potente, com taninos marcantes (o tempo lhe fará bem), ótima acidez, mineralidade e final longo. É um vinho complexo, muito bom agora, mas que ganhará muito com uns anos de adega. Seus taninos anseiam por uma carne gordurosa. Se for apreciá-lo, deixe respirando em decanter por 1-2 horas para amaciar, porque o danado é parrudo. É um vinhão! Apresentei-me a Perez Cruz, por cima...rs. O Quélen que me aguarde.

E no dia seguinte, como estava?

As impressões acima foram tiradas logo ao abrir o vinho, e com pouco tempo de taça. Além disso, foi apenas uma boa taça (grande...rs) apreciada. Eu fechei então os 2/3 da garrafa que sobrou com vacuvin, guardei sob refrigeração, e levei para o pessoal apreciar no outro dia, na reunião da confraria. E para minha surpresa, estava melhor ainda que no primeiro dia! O pouco álcool que se mostrava no primeiro dia já não mais o fazia, e tudo ficou mais bem integrado. A Cabernet, que reinava no primeiro dia, deu lugar à Carmenére, que se destacou, principalmente no final da garrafa. Toques especiados muito gostosos foram aparecendo aos poucos em meio à fruta vermelha. Uma beleza! Isso só mostra o tanto que é importante beber o vinho do jeito certo, na hora certa e ter paciência. Por isso, grandes vinhos, bebidos em grandes turmas, rapidamente, podem até mesmo decepcionar...

Nota: Mas não é com qualquer vinho que se pode fazer isso, não! Isso é para vinho estruturado, de peso, como bons Brunellos, Barolos, um bom Numanthia (clique aqui) e outros parrudos. É por isso que o grande Biondi-Santi fica "bravo" com quem critica seus vinhos, e não atendem a recomendação de abrir com um dia de antecedência, como consta em seu site: "Stappare e scolmare un po'le bottiglie circa 8 ore prima della degustazione"! Ou seja, abra a garrafa, tire um pouquinho de  vinho dela e aguarde no mínimo umas 8 horas antes da degustação. Na Toscana, alguns colocam a garrafa na janela para respirar. Aqui no Brasil isso seria meio perigoso...rs.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

CAUZÓN PINOT NOIR 2007: Pinot espanhol NATURAL, e com fúria!

Pinot, em taça de Pinot!
Desde que apreciei o Rubaiyat 2006, Syrah natural da vinícola espanhola Barranco Oscuro, fiquei impressionado. Até escrevi algumas linhas aqui no blog sobre os vinhos naturais espanhóis (clique aqui). Bem, como comentou o amigo Eugênio, o simples fato de ser natural não garante que o vinho seja bom, mas quando se obtém um belo vinho, com a prática natural, aí a coisa pega! É o caso do Rubaiyat e deste Cauzón Pinot Noir 2007, da Bodega Cauzón, de Granada, trazido pelo amigo Marcelinho Vascaíno, da própria cidade. O produtor, Ramon Saavedra, começa seu blog com a frase "Se dice lo que se hace, se hace lo que se dice"! É a máxima dos produtores naturais espanhóis.
O rótulo é uma obra de arte
O vinho é feito com uvas cultivadas organicamente, sem adição de sulfitos, nem filtração ou clarificação. A fermentação é realizada pelas próprias leveduras das uvas (que alguns chamam de "indígenas"). Foram apenas 900 garrafas produzidas nessa safra. O vinho matura por 12 meses em barricas de carvalho francês. Como todo vinho natural, deve ser decantado e aerado por agitação vigorosa para liberar o CO2. O vinho em questão tinha bastante sedimento na lateral da garrafa, o que tornou a decantação absolutamente necessária. Sua cor difere dos Pinot Noir tradicionais, sendo mais escura, como se homenageasse sua terra natal, a bela Granada! Ao nariz, mostra notas de morangos silvestres, groselha e muita mineralidade. Com o tempo no decanter, foram surgindo notas terrosas e especiadas. Em boca, boa fruta, muita mineralidade, folhas secas e acidez vibrante. Os taninos são secos e corretos. O álcool, em seus ótimos 12,5%, está perfeitamente integrado. Vinho gastronômico e que implorou por um Confit de Pato, como o que apreciei em Alicante acompanhando um El Linze... Bem, ficará para a próxima... É um ótimo vinho, mas para paladares diferentes daqueles apaixonados pela maioria dos Pinot novo-mundistas, doces, repletos de fruta e madeira. Vinho sem maquiagem.

Abaixo coloco um texto do produtor, que achei bem legal.

SE DICE LO QUE SE HACE, SE HACE LO QUE SE DICE (por Ramón Saavedra - Bodega Cauzón)

Esta es la filosofía que se aplica, en la forma de trabajar en el viñedo y en la bodega, nunca en otro trabajo me había sentido tan útil como en el campo, sobre todo por el aprendizaje que dia a dia nos transmite la madre tierra y cualquier cosa que brota de ella, sin atajos en el tiempo y sin escatimar en esfuerzo, así cuando veo los resultados de ese esfuerzo diario, aprendo lo que las plantas son capaces de enseñarme cada dia, que no es poco! por todo esto, brindo por los que aman su trabajo!
Agite em decanter para aerar. Essencial para vinhos naturais.
12,5% de álcool. Isso é bom!
Rótulo de lado, mostrando o ano
Cor granada, mais escura que os Pinot tradicionais


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Noite boa na Confraria: Taittinger, Romaneira Rosé, Pago Florentino, Marquis de Bordeaux, Chateau Gouprie e Tons de Duorum

Taittinger, Romaneira Rosé, Pago Florentino, Marquis de Bordeaux, Chateau de Gouprie e Tons de Duorum
Há umas duas semanas, apreciamos bons vinhos na confraria. Foram 3 ibéricos e 3 franceses...
O amigo Rodrigo, em homenagem ao confrade Paolão, levou um Champagne Taittinger. Aqui, não há muito o que comentar, pois trata-se de champagne tradicional. O que me chamou a atenção nele foi o frescor. Não tinha exagero de levedura, com as notas de panificação presentes mas na medida, sem sobrepujar a fruta. As notas cítricas davam o tom, com presença também de um fundo de maça. Muito bom!
O Fernandinho abriu um Romaneira Rosé 2009, e para mim, este foi a (boa) surpresa da noite. O vinho é feito com Tinta Roriz (50%) e Touriga Franca (50%) de videiras com mais de 20 anos de idade. Vinho de cor muito bonita (veja a taça...) e bastante agradável. Ao nariz mostra notas de frutas silvestres, cereja e um fundinho de tabaco. Em boca tem presença e é muito fresco. Uma delícia de rosé. Para repetir! Recomendado.
Eu levei um Pago Florentino 2008, de Arzuaga Navarro. A vinícola produz verdadeiras preciosidades de Ribera del Duero. Bem, o produtor, que possui uma excelente estrutura para turismo, incluindo um grande e luxuoso hotel, é vizinho de Vega Sicilia e Pingus... Boa vizinhança, não? É sempre um dos primeiros produtores que visito nos Decanter Wine Show. Tempos atrás, abri para os amigos da confraria um grande vinho do produtor, o Reserva Especial 2001! Sedosidade incrível! Mas a vinícola produz vinhos também em outras paragens, mais especificamente, na região de Toledo, Castilla La Mancha, entre Madrid e Córdoba. Até o momento, um único vinho é produzido, e é feito com uvas da Finca El Solana, que tem como característica receber uma grande quantidade de sol durante todo o dia (a noite, não...rs).  O vinho, produzido com a uva Cencibel (nome da Tempranillo na região), se chama Pago Florentino em homenagem ao patriarca da familia Arzuaga, Sr. Florentino Arzuaga. Ele matura por 12 meses em barricas novas de carvalho francês, e é engarrafado sem clarificação ou filtração. É um vinho que tem na fruta madura sua principal característica. É potente, aromático, com notas de cereja preta, amora madura, balsâmicas, minerais e de baunilha. Em boca é amplo, de mastigar, com muita presença e taninos muito maduros. Lembrou-me um pouco vinhos da Catalunha. Segundo o produtor, é vinho para ser bebido na plenitude de sua juventude. Eu gostei muito dele agora, mas acho que uns aninhos lhe farão bem, pois tem muito potencial para guarda. Vale a pena experimentar.
O amigo Paolão levou um bordozinho bem justo pelo preço, o Marquis de Bordeaux 2010. O vinho é feito com Merlot (65%) e Cabernet Franc (35%). A mistura ficou boa e a Cabernet Franc dá o toque apimentado no vinho. Notas de amora e cereja se mesclam a notas de banilha, tostadas e grafite. Em boca é leve, com boa acidez e taninos presentes. Perfeito para acompanhar comida. De novo, um bom vinho pelo seu preço, oferecendo mais que outros bordeaux simples, e mais caros...
O JP levou um Chateau Gouprie 2006, da vinícola Moze-Berthon. Aqui trata-se de um vinho que fica em um degrau acima em relação ao anterior, já mostrando mais complexidade. É um pomerol que apresenta um corte de Merlot (75%) e Cabernet Franc (25%), muito próximo do Marquis. A maturação foi feita por 12 meses, em barricas de primeiro (50%) e segundo uso (50%). O vinho, de cor rubi bonita, apresentava notas de groselha, framboesa, leve tabaco e alcaçuz. Em boca era leve, sedoso, redondo, até um pouco glicerinado. Um bom vinho, mas que poderia ter mais pegada. Acho que a safra não ajudou muito.
E parar finalizar, um vinho levado pelo amigo Tonzinho, que para brincar com seu nome, levou um Tons de Duorum 2009. O vinho é o básico da Duorum, que é um projeto de dois grandes enólogos  portugueses (daí o nome Duorum...): João Portugal Ramos e José Maria Soares Franco. O projeto é novo, tendo se iniciado em 2007, mas já tem produzido grandes frutos. O Tons de Duorum é feito com Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (30%) e Tinta Roriz (20%), com maturação em barricas usadas de carvalho francês e americano, por 6 meses. Ao nariz mostra notas de amora, cereja, leve chocolate e alcaçuz. Em boca tem bom corpo, taninos corretos e boa acidez. Um vinho muito bom pelo seu preço. Inclusive, já andou ganhando bom reconhecimento da crítica. Eu acho que a WS exagerou um pouco, lhe outorgando 90 pontos, como fez para o Cabriz Colheita 2008. São, inclusive, vinhos com qualidades similares, assim como o Ciconia. Sem dúvida, ótimo para um festinha e para o dia-a-dia, e mostra que a Duorum veio para ficar.