Digo e repito: O compromisso do blog Vinhobão é honrar o nome. De vez em quando escapam umas zurrapinhas, mas são raras (ainda bem...rs). E na celebração do segundo aniversário do blog, mesmo com a falta de dois confrades, o negócio pegou. Todos os vinhos estavam ótimos. Farei a descrição pela sequência decrescente de "boa (ótima) impressão" (na minha opinião, claro).
O primeiro vinho, unanimidade da noite, foi levado por este que vos escreve. Claro, eu tinha que levar um vinhobão. Era um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2006. Este dispensa comentários - É um ícone português de muita estirpe. Vinho top da Quinta do Crasto, feito com mistura de castas (vinhas velhas) do vinhedo Maria Teresa, o qual conta com videiras de mais de 90 anos de idade. A maturação é feita em barricas de carvalho francês, por 18 meses. Ao nariz, mostra uma riqueza aromática incrível. São notas de violetas, cereja preta, frutas silvestres, confeitaria, kirsch, leve tostado, tabaco doce, chocolate e café com leite. Tudo muito bem integrado e que ia se alternando com o tempo. Camadas e mais camadas. Em boca, uma explosão! Redondo, amplo e sedoso. Uma delícia engarrafada. Vinhobão, de verdade! O comentário da turma era que ele não era apenas o melhor da noite, mas o melhor do ano até aqui.
O segundo vinho, levado pelo amigo Paolão, é outra raridade portuguesa, da Bairrada, alí bem pertinho de Coimbra. Olha, o Paolão matou um desejo meu, pois eu estava louco para apreciar este vinho. Era um Buçaco Reservado 2004. Não, não tem nada a ver com os "reservados" chilenos... rsrs. Não é chamado Reserva por motivos de regras da Bairrada. O vinho é comercializado apenas no Castelo de Bussaco (o nome do castelo se escreve assim) e no Brasil, importado pela Mistral. É vinho feito majoritariamente com Baga e pitadas de castas locais (cultivadas ao redor do Castelo, na Bairrada e no Dão). O destaque aqui é a tradição e a qualidade, motivos de elogios rasgados da crítica. Segundo o site da Mistral, é um vinho para conhecedores, que pode ser apreciado jovem, como este 2004, mas que ganha muito com o envelhecimento. Uma beleza de vinho! Díficil de descrever. Logo ao ser aberto, é fechadão, austero... Mas com pouco tempo na taça se abre em aromas florais, de frutas silvestres, fumo e alcaçuz. Em boca é austero, amplo, mas com taninos corretíssimos. Aliás, tudo corretíssimo! Vinhaço! Quero repetir logo. Tendo chance, não perca a oportunidade de apreciar um vinho desse. Inclusive o branco, que dizem também ser belíssimo.
O terceiro vinho foi levado pelo amigo JP. Este será provavelmente o que os meus 4 amigos discordarão de mim na sequência, pois parece que não o apreciaram muito, inclusive o próprio JP. Mas eu gostei demais. Foi um Philippe Pacalet Chambolle-Mousigny 2009. Um borgonhês de primeiríssima, feito de maneira natural pelo craque Philippe Pacalet (sem uso de defensivos químicos e pouco SO2 - só no engarrafamento). Aqui, esqueça os Pinot Noir novo-mundistas e conheça um verdadeiro. Um vinho sem aquele exagero de fruta madura dos Pinot do novo mundo. Ela estava presente (morangos silvestres, framboesa), mas integrada com notas terrosas e de ervas secas. Tudo isso, com ótima mineralidade! Em boca mostrava corpo e ótima acidez. Vinho com força, que certamente causa estranheza a quem pensa que Pinot faz vinhos fraquinhos, levinhos, para bebericar... Vinhaço, que só sentiu falta da escolta por um belo prato à base de pato.
O Caião levou um espanhol de responsa: Protos Selección 2002. Um ribera de vinícola tradicional, aliás, muito tradicional, pois foi a primeira de Ribera del Duero (Protos significa primeiro, em grego). Este Selección é um vinho especial da Bodega, feito com uvas de vinhas de mais de 60 anos de idade. Além das notas de cereja, caramelo e tabaco, mostrava notas especiadas que foram surgindo com o tempo e que me lembraram um Pago de Carraovejas que o Paulão levou um dia. Em boca era bem redondo, com boa acidez, taninos maduros e levemente terrosos. Vinho muito gostoso, que chamou a atenção pelo lado especiado.
O Tonzinho levou um da vinícola Paternina, o Conde de Los Andes Gran Reserva 2004. A vinícola centenária, que conta com uma boa estrutura para enoturismo, faz vinhos em Rioja, Ribera del Duero e Jerez. Este Gran Reserva, feito com Tempranillo e Mazuelo, maturou 3 anos em barricas e mais dois na garrafa antes de ser comercializado. É um Rioja típico, com madeira presente, mas bem integrada a notas de cereja, tabaco e casca de laranja, em meio a couro e baunilha. Em boca, de médio corpo e com taninos redondos. Vinho muito bom, sem surpresas.