quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A polêmica do Schild Shiraz 2008: Será que apreciamos gato por lebre???

Logo após postar sobre o Schild Estate Shiraz 2008, que apreciei com meu amigo JP, um leitor comentou em meu blog que talvez tivéssemos bebido um vinho falsificado. No comentário é citado o artigo na Wine Spectator intitulado "Bait and Switch? When Australia’s Schild Estate ran low on an acclaimed wine, they purchased, blended and bottled a new batch (ver http://www.winespectator.com/webfeature/show/id/44637 ). No extenso artigo, assinado por Harvey Steiman e Tyson Stelzer, é citado que após receber o prêmio de sétimo do mundo na lista, a demanda foi tanta que a vinícola resolveu engarrafar novos exemplares, com o mesmo rótulo, mas utilizando um outro vinho. As garrafas ditas "originais" foram engarrafas em 3 lotes: Novembro 2009, Março 2010 e Outubro 2010. Os engarrafamentos com outro vinho foram feitos posteriormente a estas datas. Pelo que escreveram, essa prática é permitida na Austrália, principalmente para vinhos de baixo custo, mas geralmente não acontece com vinhos mais caros e aqueles que receberam premiações (que é o caso). De qualquer forma, pode até não ser ilegal, mas para mim, não é "legal". No artigo os autores (e alguns comentaristas) citam como pode ser feita a identificação dos lotes originais (ver abaixo). Segundo os produtores, que deixaram comentário oficial no artigo, o "novo lote" foi feito apenas para consumo interno australiano e foi marcado com uma etiqueta extra com os escritos "second blend". Citam que estas garrafas não foram exportadas para os EUA. Mas teriam sido exportadas para o Brasil?

Qual seria então a resposta à minha pergunta no título desta postagem? Será que JP e eu apreciamos gato por lebre?

Bem, como cientista tenho a curiosidade na veia, e fui logo ver na garrafa a identificação a que se refere a Wine Spectator. Cito a seguir parte do artigo, em inglês:

"All bottles of Schild also contain a code, usually located under the back label, that identifies when it was bottled. The bottling code begins with the letters BBS, identifying Barossa Bottling Services, Schild’s bottler. On some bottles, the next character is the letter L and either a 9, 0 or 1. This refers to the year (2009, 2010 or 2011). The next three digits denote the day of the year, with 001 being January 1 and 365 being December 31. So, a bottle that says BBSL9331 was bottled in 2009 on November 27".


Base do contra-rótulo do vinho que bebemos. Notar o código BBSL9331

Ou seja, de acordo com a Wine Spectator, a garrafa que apreciamos é original, dos primeiros engarrafamentos, visto que ela tem inclusive o mesmo código (BBSL9331) do exemplo acima citado pelo articulista. No entanto, há muita discussão no artigo e isso ainda deve render.

Bem, confesso que não gostei desta história "australiana", pois ela compromete fortemente a imagem de suas vinícolas.  Não acho o procedimento adequado, de forma alguma. Isso me empurra cada vez mais aos vinhos de pequenos produtores, artesanais e de preferência, naturais.
Quanto ao vinho, pela Wine Spectator apreciamos o original, não uma garrafa engarrafada posteriormente com outro vinho. Mas independente disso, tenho que ser sincero e dizer que o vinho estava muito bom mesmo. Isso não dá para negar.

8 comentários:

  1. Simplesmente o melhor post do ano.
    Matou a cobra e mostrou o defunto.
    Parabéns.

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  2. Caríssimo Pedro!
    Muito obrigado pela visita e pelo gentil comentário. Espero que continue a visitar o blog e manifestar sua opinião.
    Um grande abraço e "Vinhobão"!
    Flavio

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  3. Flavio,
    Que coisa.
    Fico imaginando quanta picaretagem existe no mundo do vinho que ninguém fica sabendo.
    Especialmente quando "surge" uma boa nota da crítica e o estoque é escasso.
    Ainda bem que o de vcs foi lebre e não gato.
    "Second blend"? Caso de polícia!
    Abraço!

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  4. Caro Alexandre,
    Pois é, deve ter muita coisa errada, infelizmente. Eu concordo com você, é caso de polícia. O consumidor não pode ficar à mercê de pessoas que parecem visar apenas o lucro. E o pior é que comprometem a figura de outras muitas que têm atitudes corretas.
    Grande abraço,
    Flavio

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  5. Flavio não é de se estranhar uma atitude dessas. A própria WS é mestre em fraudes (lembra do restaurante fantasma que a revista condecorou e que tinha uma carta fictícia com os vinhos de pior pontuação da revista?). Bastou pagar a taxa de inscrição que foi condecorado. A safra 2003 de Brunellos teve vários "batismos" e vinícolas que engarrafam o mesmo vinho com diversos rótulos como foi mostrado no Mondovino, são mais que comuns. Logo esse caso do Schild Shiraz é totalmente crível.
    Há muito mais no mundo de todas as coisas que nunca saberemos.

    Abraço

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  6. Pois é Eugênio. O dinheiro fala mais alto, o que é lamentável. Por isso penso que devemos procurar vinhos de pequenos produtores, artesanais, de preferência naturais. Não que não possa ocorrer maracutáia com eles também, mas acho mais improvável. Aliás, na próxima semana um amigo me trará uns vinhos "naturales" espanhóis (de Federico Schatz, Cauzón e Barranco Oscuro). Bebi um Syrah maravilhoso da Barranco Oscuro tempos atrás.
    Grande abraço,
    Flavio

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  7. Flavio esses espanhóis eu não conheço, são comercializados por aqui?

    Eugênio

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  8. Oi Eugênio,
    Estes dias, para minha surpresa, recebi um e-mail da Casa do Porto com uma promoção na qual estava o Acinipo, do Federico Schatz, a um ótimo preço comparado com o preço de lá. Os outros acho que infelizmente não são comercializados aqui, que eu saiba.
    Abraços,
    Flavio

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