domingo, 13 de março de 2011

Numanthia 2006 - Vinhobão, mas seja paciente...

Na sexta-feira fui ao Ciao Bello e levei um espanhol de peso, o Numanthia 2006. As bodegas Numanthia ficam na região de Toro, que tem como característica vinhos potentes, longevos e de grande personalidade. A região acumula safras notas 10, portanto, é fácil adquirir bons vinhos de lá. Eu os aprecio muito. O nome da Bodega vem da cidade Numancia, destruída há mais de 2.100 anos pelo império romano nas guerras celti-ibéricas. No contra-rótulo é citado que o nome Numanthia vem deste fato e também dos mais de 100 anos de luta contra a filoxera. Os vinhos desta bodega, que foi comprada recentemente pela gigante Louis Vuitton Moet Hennessy (LVMH), são arrebatores de prêmios e de grandes notas dos mais diferentes criticos. O Numanthia Thermes 2002, que é mais barato que o Numanthia (Numanthia), já ficou em terceiro lugar nos top 100 da WS em 2004 e o 2005 em segundo na lista de 2009, com singelos 96 pontos! Os seus vinhos são feitos a partir de uvas de vinhedos muito antigos, de baixíssimo rendimento. Aliás, vale a pena visitar o site da bodega. A introdução mostra a colheita, e já dá para ver a concentração das uvas (http://www.numanthia.com/#/en/heritage/harvest ). É de dar água na boca. Se sua conexão for lenta, pode falhar de vez em quando. Deixe o filme ir até o fim e repita que ele irá direto. As 3 fotos a seguir são extraídas do site.



Vejam este extrato!


Bem, mas vamos ao vinho. Na verdade, eu abri de curioso que sou (e também por ter outra garrafa do mesmo ano na adega). Isso porque a recomendação da WineSpectator é para beber depois de 2011. Quando é assim, pode-se esperar um vinho fechado. Por outro lado, o amigo Eugênio, do Decantando a Vida, postou no ano passado sua apreciação para um Numanthia 2004, e achou que ainda estava fechado. Bem, mas não resisti e abri. A cor já mostrava as características de bons vinhos do Toro, escura, densa e quase que intransponível.


No entanto, ao levar ao nariz a sensação inicial foi de total decepção. O vinho parecia completamente fechado. Dava prá sentir aromas de chocolate e herbáceos, mas nada mais. Na boca estava duro como um coice de um toro, com pegada agressiva e taninos ainda fortes. Com o tempo o vinho foi se amaciando e abrindo discretamente, mas nada de muito relevante. Obviamente, dava para sentir que era um vinho de primeira, mas um bebê. Guardei então o pouco mais de meia garrafa que sobrou na adega, sem tirar o ar com vacuvin, e fui beber dois dias depois, no domingo. Que grata surpresa! O vinho se transformou! Notas complexas de chocolate amargo, balsâmicas, alcaçuz, herbáceas, cacau e leve baunilha. Com o tempo foram surgindo notas de licor de cereja e melaço. Um vinho cheio de camadas. Na boca é para mastigar, amplo, untuoso e com final longuíssimo. Belíssimo!
Fica aqui então a dica para quem não quer se decepcionar: Se for beber um Numanthia, aplique as mesmas regras de um bom Brunello. Ficará melhor depois de 10 anos de adega e merece decantação extensa, de horas, quem sabe de um dia completo. Ou então, abra a garrafa, tome um pouquinho e deixe aberta para oxigenar, como fazem na Itália. Lá deixam na janela. Quem fala que isso é frescura, experimente. Você pode estar perdendo o melhor que um vinho pode oferecer. Por outro lado, sabe o que me deixa intrigado? Este vinho foi degustado em 15 de junho de 2009 pela WineSpectator, que lhe atribuiu merecidos 93 pontos (em alguns anos quem sabe não mereça 95?). Será que eles têm uma mágica para fazer com que o vinho se abra? Eu sei que não decantam ou deixam longo tempo aberto. Será que se baseiam em safras anteriores e na tradição da bodega? Ou simplesmente dão um chutão de Nelinho? Eu vi também descrições em alguns blogs que me deixaram com a pulga atrás da orelha. Eu prefiro ficar com minha experiência pessoal e com a opinião sempre sincera do amigo Eugênio.
Ah, amigo João Paulo, era para apreciar este vinho que te liguei ontem... Infelizmente você não pode vir...
A propósito, este vinho é comercializado no Brasil pela Peninsula.

Nota pós-postagem: Vejam aqui a degustação do Numanthia 2000.

2 comentários:

  1. Grande Flavio,

    Realmente esse vinho é intransponível. Quanto a guardar na geladeira sem vacuvin, faço isso direto, inclusive estou com um EPU 07 que abri na quinta-feira e detestei (mentolado, madeeeeeira e adocicado). Sobrou mais de meia garrafa, que quase joguei fora. Vou ver se melhorou, se tiver piorado aí que jogo fora sem remorso.

    Um abraço e obrigado pela referência e confiança.

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  2. Grande Eugênio,
    É sempre um prazer.
    Que surpresa também o EPU. Eu pensei que fosse menos paulada. Desse jeito nossos hermanos chilenos vão destruir nosso sistema digestivo! Depois você põe no blog se houve melhora ou se teve mesmo que jogá-lo ralo abaixo.
    Um grande abraço,
    Flavio

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