quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Nossa Especial de Natal teve: Louis Latour CORTON-CHARLEMAGNE 2005, CHAMPAGNE DELAMOTTE, GIORGIO PRIMO 2007, BARCA VELHA 2004, CRASTO MARIA TERESA 2007, MOUCHÃO Tonel 3-4 2005, INSIGNIA 2007 e BEN RYE 2006!


Bem pessoal, durante o ano de 2012 foram várias noites regadas a grandes vinhos, sem dó... E em nosso jantar de final de ano a Confraria do Ciao não poderia deixar por menos. Foram vários vinhos de peso, para sete felizardos (a maioria, também de peso...rsrs).
A noite deveria começar com um Champagne, mas como ainda precisava resfriar um pouco mais, ficou para depois de um branco de expressão, o grande Corton Charlemagne 2005, de Louis Latour.
Foi a família Latour que, após os danos causados pela Phylloxera, resolveram erradicar as videiras de Aligoté e Pinot Noir de seus pouco mais de 9 hectares no famoso vinhedo de Corton-Charlemagne e replantar com Chardonnay. Seu vinhedo fica na melhor área da colina de Corton, garantindo máxima exposição ao sol. Esse Corton-Charlemagne 2005 foi fermentado em barricas de carvalho e o amadurecimento foi em contato com as borras (Sur lie). O amadurecimento foi em barricas francesas por 10 meses. Ao nariz, já mostrava toda a sua força. Notas de frutas cítricas, brioche, torta de limão, nozes e leve tostado. Tudo isso, com ótima mineralidade. Em boca, repetia o nariz e era untuoso, cheio e ao mesmo tempo macio, fino e elegante. Tudo perfeito! Uma maravilha engarrafada! De apreciar cada gota com muito prazer e ficar muito triste quando a taça já não mais continha aquele néctar... Excelente!
E depois de nos esbaldarmos com o Corton, partimos para uma magnum do Champagne Delamotte Brut (na foto grande, primeira garrafa). Embora pouco badalado, o produtor é tradicional em Champagne, produzindo grandes vinhos desde 1760 e sendo a quinta Maison mais antiga de Champagne. Tem como vizinho nada mais nada menos que o grande Champagne Salon. Aliás, são Champagnes irmãos, do mesmo grupo (Laurent-Perrier) desde 1989. A Maison Delamotte tem produção limitada, a vantagem de ser menos famosa que a Salon. Seu preço é (bem) mais acessível. O brut é feito com 50% Chardonnay, 30% Pinot Noir e 20% Petit Meunier. É um Champagne excelente, com notas cítricas e de maçã mescladas a nozes tostadas e panificação. É um Champagne potente e elegante, mineral e de bastante presença. Delicioso! Muito bom mesmo! Se pintar alguma no Bota-Fora da World Wine, não deixe passar.
E aí, fomos para os tintos... E que tintos! Bem, a ordem não importa muito no caso, mas vamos começar com um Barca Velha 2004. Já havíamos apreciado o 2000 em duas especiais de final de ano seguidas (aqui e aqui) e queríamos ver como estava este mais recente da Casa Ferreirinha. Bem, não preciso dizer que é um vinhaço. Nesse décimo sétimo vinho do celebrado Barca Velha, a elegância da Casa Ferreirinha se manifesta já nos aromas e em cada gole. O vinho é feito com Touriga Nacional (40%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz (20%) e Tinto Cão (10%). A maturação ocorre em barricas 75% novas e 25% de segundo uso, por 16 meses, e o vinho é engarrafado sem qualquer tipo de tratamento. O vinho possui aromas riquíssimos, com notas de frutas silvestres, florais, balsâmicas, especiadas e minerais. E tudo muito certinho, equilibrado, sem destaque para nada. Sem arestas! Em boca repete o nariz e mostra-se cheio, mas elegante, com fruta viva, ótima acidez e mineralidade. Os taninos são corretíssimos! Embora apreciável agora (e como!!!), acredito que ainda está longe de atingir o seu apogeu. O próprio site da vinícola sugere que isso deva ocorrer entre 15-20 anos após a colheita. Realmente, apesar da riqueza, a impressão é que ainda tem muita coisa por vir. De qualquer forma, ao apreciar esse vinho não se esqueça de decantar por no mínimo 3 horas.
E saindo de Portugal em direção à Bota, partimos para aquele que achei um dos mais completos da noite. Talvez até porque eu tenha aberto com horas de antecedência, decantado e levado na temperatura correta. E como isso faz diferença... Mas tratava-se de outro vinhaço, o Giorgio Primo 2007, da Fattoria La Massa. Eu já postei aqui sobre um 2004 que bebi tempos atrás e também sobre umas taças bebidas em uma vertical (do 2006, 2007 e 2008) apreciada na World Wine Experience (clique aqui), que inclusive, incluia esse 2007. Mas agora no negócio foi diferente. E não foi apenas por causa do tempo de lá para cá, mas também por causa do tratamento do vinho, da taça, do tempo para apreciação (e quantidade, lógico...rs). Isso permite explorar todo o potencial do vinho, que é enorme. Uma curiosidade é que a partir da safra de 2007 a rainha Sangiovese foi tirada do corte, o que, a princípio, achei um ultraje. No entanto, quando se bebe o vinho a "revolta" se transforma em admiração. O vinho é feito apenas com castas francesas (Merlot, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot - O 2004 tinha todas elas e também a Sangiovese). Ao nariz mostra uma riqueza aromática incrível, que muda com o tempo. Notas de amora madura, cereja preta, alcaçuz, tostado e baunilha se fazem logo sentir. Com o tempo vão aparecendo notas de cassis e um toque mentolado. Em boca, repete o nariz e é untuoso, potente, mas de uma sedosidade incrível. Como citei para o 2004, a potência e a sedosidade estão de mãos dadas nesse vinho. Paolão e eu o elegemos o rei da noite, e outros confrades o deixaram em segundo ou terceiro. Ou seja, agradou demais. Aliás, agradou também a WS, que lhe outorgou 97 pontos e o colocou entre os top 100 de 2009. É um vinho que não pode deixar de ser experimentado por quem gosta de vinho bão!
E a noite ainda tinha 4 estrelas por brilhar...
Uma delas era uma belíssima magnum de Mouchão Tonel 3-4 2005. Aqui o negócio também pega. É vinho de representa a tradição do Alentejo. O vinho advém da atenção do chefe das adegas da vinícola, que notou que aqueles oriundos dos tonéis 3 e 4 eram mais ricos e complexos. A vinícola resolveu então separar e comercializar esse vinho em separado. Ele é feito com Alicante Bouschet (que se adaptou muito bem nas terras da Herdade do Mouchão) e Trincadeira. A fermentação é feita em lagares de pedra, com pisa a pé. A maturação ocorre por 24 meses em tonéis de madeira portuguesa. É um vinho de cor densa, escura, e aromas muito ricos de frutas maduras, com destaque para amoras, notas balsâmicas, fumo de corda e um fundinho mentolado. Em boca repetia o nariz e se mostrava denso, untuoso e com final muito longo. Muito rico! Outro vinhaço!
Depois dele, outro português de peso: Quinta do Crasto Maria Teresa 2007. Não há muito o que dizer do M. Teresa. É um vinho de muita classe, dos grande portugueses. Eu havia ofertado um 2006 para o pessoal tempos atrás e foram elogios para todo lado (clique aqui). O vinho é feito com uma mescla de uvas (mais de 30 castas) provenientes de vinhas velhas, de mais de 90 anos de idade. O envelhecimento desse 2007 foi feito em barricas de carvalho (80% francesas e 20% americanas), por 20 meses. Ao nariz mostra notas florais e de frutas silvestres (em geléia), kirsch, chocolate, baunilha e confeitaria. Em boca, repetia o nariz, com destaque para as frutas maduras. Era como se mordessemos a parte de cima de uma torta de framboesa. Na verdade, isso não me apeteceu muito. Achei meio exagerado nesse aspecto e para mim, ele perdeu para o 2006. Parece incoerente, principalmente considerando que a safra de 2007 foi melhor. No entanto, o 2006 fez mais minha cabeça. Talvez em alguns anos o 2007 melhore e o excesso de fruta dê lugar também para outras características. É claro que é um excelente vinho, sem dúvida alguma. Mas pode (e deve), melhorar.
E para finalizar a lista de grandes tintos, partimos para um californiano, o Insignia 2007, de Joseph Phelps. Vinho estilão bordalês feito com as melhores uvas de seis vinhedos de Phelps. O vinho, cuja primeira produção data de cerca de 40 anos, é considerado um dos maiores do mundo. O da safra de 2002 foi o vinho do ano da Wine Spectator. Esse 2007 ganhou 96 pontinhos da revista. Ele é feito majoritariamente com Cabernet Sauvignon, mas tem pitadas de Merlot e Petit Verdot. Tem cor, nariz e paladar super concentrados. Ao nariz mostra notas de cassis, amoras, mirtilo e terrosas. A madeira aparece, mas bem integrada ao conjunto. Em boca é untuoso, cheio, de mastigar. Mas tudo muito bem integrado e nada de ser enjoativo. O final é interminável. Outro vinhaço! Tem ainda muitos e muitos anos pela frente e deve melhorar muito ainda. Foi a preferência de boa parte dos confrades. Bem, eu diria que, se o colocassem do lado o Giorgio Primo 2007 e pedissem que eu escolhesse, eu iria direto no Giorgio. E não é só porque custa 1/3 do preço, mas porque gosto mais dele. O italiano feito com uvas francesas faz mais a minha cabeça.
E para finalizar, e acompanhar meu famoso (rs) Creme Brulée, um delicioso Ben Ryé 2006, da vinícola Siciliana Donafugatta. Esse ano resolvemos fugir um pouco de Tokaji e Sauternes, e experimentar outros vinhos doces. Esse Passito di Pantelleria eu havia provado no Encontro do Gambero Rosso e gostado muito. É um vinho feito com Zibibbo (a mesma Moscato de Alexandria). Sua cor é âmbar (faltou a foto...rs),  bem bonita. Lembra até um Porto. Aliás, lembra também nos aromas e paladar. Ao nariz mostra notas de damasco, nozes, doce de laranja da terra e um fundinho de tabaco e ervas. Em boca, a doçura é compensada com uma ótima acidez, que lhe dá frescor e não o deixa enjoativo. O final é longo e prazeiroso. É um vinho excelente! A WS lhe tascou merecidos 94 pontos. Ficou ótimo com o Creme Brulée, mas a meu ver, ficaria melhor ainda com uma Pastiera di Grano ou algo parecido.
Bem, é isso aí... Mais uma daquelas noites muito especiais da Confraria do Ciao (aliás, tem noite nossa que não seja especial?). 

8 comentários:

  1. Caramba (na verdade, soltei outra exclamação aqui, rs)!
    Uma volta ao mundo... de 1ª classe!
    Tô criando coragem pra comprar o Giorgio Primo. Provei um dedinho só e adorei. A WorldWine ainda tem o 2007. Basta um pequeno desconto de início de ano pra cair matando. Olho nele!
    O Mouchão, tenho um "normal", tb 2005. Devo abrir esse ano. Faz tempo que não bebo, não sei como anda. Cheguei a comprá-lo em supermercado, no Rio, mas agora só em loja especializada. O preço, é claro, subiu muito.
    Vc acha que o Quinta do Crasto Maria Teresa vale a diferença de preço pro Reserva?
    E esse Ben Ryé é uma delícia mesmo. Não teve quem não o elogiasse no Gambero Rosso. Tô pra comprar uma garrafinha tb.
    Abs.

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    1. Grande Vitor!
      Realmente, a noite foi para soltar exclamações. Grandes vinhos!
      Rapaz, se pintar um Giorgio no Bota-fora da WW, não hesite. É prazer a cada gole. Uma delícia. E para quem gosta de um bom vinho da Bota, como você, não tem erro! Bem, depois te escrevo passando uma possibilidade para conseguir um com bom desconto...rs. O Mouchão é também um vinhão. E a magnum estava um mel.
      Então, o Maria Teresa... A diferença para o Reserva. É monstruosa. São 4 garrafas por uma. Eu diria o seguinte: O 2006 que bebemos estava divino. Uma coisa de louco. Mas o 2007, por incrível que pareça (considerando a safra), eu trocaria por 4 garrafas do Vinhas Velhas brincando...rsrs. Não sei o que ocorrerá daqui a alguns anos, mas agora, eu troco.
      O Ben Ryé é realmente muito bom. Acho que se acertar a companhia para ele, como uma Pastiera di Grano ou até mesmo aquelas sobremesas Sírias, ele deve melhorar ainda mais. Eu não gosto, mas um colega que fuma charuto disse que seria companhia perfeita...rs.
      Um grande abraço,
      Flavio
      ps. Essa postagem foi longa... Ao estilo antigo... Mas estava já pronta, no forno. Logo serei mais ligeiro (rs).

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  2. Ah, esqueci de falar do Barca Velha, mas, enfim, ele dispensa comentários, rs.
    Só provei um dedinho (1999), mas o gosto não sai da minha memória.
    Abs.

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    1. Vitor,
      O Barca é demais... Eu não bebi o 99, mas tem um amigo que diz o mesmo: Não sai da memória dele. Uma coisa é certa para mim: Quanto mais idade, melhor! Beber ele novo, como esse 2004, é desperdiçar o potencial da fera. O 2000, para mim, estava bem melhor. Mas acho que pesou a idade e o tempo de decantação (importante no caso do Barca - No começo ele é muito discreto).
      Abraços,
      Flavio
      ps. Mas se encontrar um Ferreirinha Reserva Especial 1997, não hesite: Ponha na cesta! Alguns portugueses dizem que ele só não foi declarado Barca por algum detalhe desconhecido...rs. O vinho é incrível!

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    2. Nunca vi tanto vinho bom em uma só noite!

      Tinha a mesma curiosidade do Vitor sobre o Quinta do Crasto Reserva e o Maria Teresa. No geral eu prefiro pegar 3 ou 4 garrafas de um vinho já top, do que 1 só de um "Big Top". Mas tudo tem exceções.

      abraços,

      Alexandre.

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    3. Grande Alexandre,
      Obrigado! Os vinhos estavam realmente excelentes.
      Então, sempre digo que o Crasto Reserva é um vinho difícil de ser batido em sua faixa de preço. É muito bom, mesmo! Eu adoro. O Maria Teresa 2006 que bebemos estava sensacional. Mas o 2007 já não me impressionou tanto. Achei muito frutado. Mas acho que está muito novo e que também não foi decantado o tempo que precisava. Quiçá eu tenha a oportunidade de bebê-lo daqui a alguns bons anos, para ver se outras características equilibram a fruta. Pode parecer heresia isso, mas foi minha impressão. Agora, eu não teria dúvidas: Dá-me 4 garrafas de Reserva Vinhas Velhas para eu fazer a festa! rsrs.
      Abração,
      Flavio

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  3. Boa noite,

    Realmente os Barca Velha são vinhos fora do normal... e então a colheita de 2004 do melhor... Mas para quem não quer despender muito dinheiro numa só garrafa, a Maria Teresa da Qta do Crasto são realmente uma excelente opção... Para mim talvez superior!!! e então esta colheita de 2011!!!

    A todos os interessados eu poderei vender qualquer um destes vinhos e envio para toda a Europa e Brasil...

    Abraço,
    Fernando

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    1. Boa noite, Fernando!
      Obrigado pela visita e comentário. Concordo com você em tudo. Barca Velha é grande, mas Maria Teresa, idem! Distintos, mas ambos belíssimos vinhos. Eu ainda não provei o da colheita de 2011, mas imagino que deve estar soberbo.
      Bom saber que você os vende. Depois envie seu contato. Pode ser via comentário, que mantenho em sigilo, se assim desejar.
      Abraços,
      Flavio

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