sexta-feira, 16 de setembro de 2011

No bota-fora do Paulão, só teve vinhobão: Castello di Brolio 06, Barbaresco Dessilani 03, Muga Selección Especial 05, Chianti Clássico Riserva Capraia 03, Quinta de Foz de Arouce VVSM 05 e Má Partilha 08


Nesta última quinta fizemos o bota-fora do confrade Paulão, que sai de viagem à França na próxima semana, coitado... Bem, como era de se esperar, ele levou uma preciosidade, o italiano Castello di Brolio 2006, de Barone Ricasoli. Apreciamos este vinho em nossa especial de final de ano em 2010 (clique aqui). É uma maravilha! Não é a toa que ficou em quinto lugar do mundo na lista dos Top 100 2010 da WineSpectator. Vale cada pontinho (dos 96, rs). Aliás, o 2004 também é excelente (clique aqui). A diferença é que o 2006 é mais moderno, mais internacional, mas nem por isso deixa de ser um grande vinho (neste aspecto, confesso que prefiro o 2004). Neste 2006, as notas de baunilha já diminuiram um pouco em relação aquelas garrafas que apreciamos no ano passado, mas ainda estão presentes em meio a notas de amoras bem maduras e alcaçuz. Em boca é amplo, denso, com taninos finíssimos e final longuíssimo. Uma beleza de vinho Paulão!
O amigo João Paulo levou o Barbaresco Dessilani 2003. O vinho estava fechado no início. Notas de ervas e funghi secchi bastante presentes, mas pouca fruta. Depois de um bom tempo respirando surgiram notas de frutas, leve ameixa fresca, morango, mas poucas notas florais típicas da Nebbiolo. Em boca era de leve para médio corpo, com boa acidez e taninos se arredondando. O vinho ficou gostoso depois de bom tempo aberto, com mais harmonia e boa mineralidade. O problema é o seguinte: Barbaresco, Barolo, Brunello e companhia, têm que ser apreciados com muita calma, e com comida! Se não for assim, perdem potencial.
Eu levei embrulhado um Muga Selección Especial 2005. É um riojano muito elogiado pela crítica. Uma característica especial dele é o corte de 70% Tempranillo, 20% Garnacha e 10% Graciano e Manzuelo. A Garnacha entra na composição e dá a ele características especiais, principalmente mais acidez e mineralidade. Aliás, só o Fernandinho acertou a nacionalidade. O Caio até que acertou as notas de cereja, típicas, mas errou o chute. Acho que a Garnacha enganou a turma. O vinho tinha as notas típicas de cereja, tabaco, um pouco de ameixa, alcaçuz e notas cítricas. Em boca parecia ainda jovem, com uma acidez vibrante. O JP achou fechado. Talvez sim, para um Rioja. Mas acho ele causou um certo estranhamento ao pessoal pela acidez vibrante. Por isso, faltou-lhe também a companhia da comida. No entanto, é inegavelmente um belo vinho, e gostei dele.
Seguimos com um Chianti Clássico Riserva 2003, da Tenuta di Capraia, levado pelo Caio. É um 100% Sangiovese , feito com videiras de baixo rendimento. O vinho tinha um bom nariz, com notas de ameixa fresca e leve tostado. Senti falta da cereja, notas florais e de chá da Sangiovese. Mas é um vinho gostoso, rico, de médio corpo e com taninos redondos. Obviamente, tinha acidez típica de um bom italiano e carecia de comida para acompanhá-lo. Mais um que precisava ter respirado mais.
Nosso amigo Tom levou um vinho que me encantou, um Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2005. O vinho é um regional das Beiras, feito quase que exclusivamente com a difícil casta Baga (ele tem também uma pitadinha de Touriga Nacional), a partir de vinhas velhas plantadas em apenas 3 hectares. A propósito, o grande João Portugal Ramos é genro do Conde e Condessa de Foz de Arouce, proprietários. Dá para imaginar então que tem seu "dedinho" nos vinhos (informação retirada do site Petichef). O enólogo responsável é o engenheiro João Perry Vidal, colaborador da equipe de JPR. Bem, mas vamos ao vinho. Ao nariz, notas de cereja foram se mostrando junto com notas de chocolate meio amargo, grafite e tabaco. Os aromas foram enriquecendo com o tempo. Em boca mostrava médio corpo e taninos e acidez típicas da casta, mas tudo muito bem integrado. É vinho mineral, gastronômico e com grande potencial de guarda. Imagino que em alguns anos irá adquirir aqueles traços de borgonha, que acontece com bons bagas envelhecidos. Eu adorei o vinho! Para mim, foi a surpresa da noite.
E por último, apreciamos o Má Partilha 2008, da Quinta da Bacalhôa, levado pelo amigo Rodrigo. O vinho é feito com 100% Merlot e matura por 16 meses em barricas de carvalho Allier. Ao nariz notas especiadas, de pimenta-do-reino, mescladas a notas de amora e ameixa compotadas e chocolate. Em boca, taninos ainda por arredondar, mas já elegantes, e bom final. Lembrou-me um bom Cuvée Alexandre Merlot.
Minha conclusão geral da noite é que todos os vinhos eram muito bons, mas precisavam ter respirado mais e terem sido apreciados com comida. Apenas os últimos o foram. Eu sou daqueles que pensam que vinho tem que ser com comida, senão prejudica sua avaliação. Por outro lado, apesar do Rosbife com molho do Troigros e bolinhas de batata estar maravilhoso, penso que os vinhos eram adequados para pratos italianos típicos, como cabrito, risotos e massas com molho vermelho.
Bem, a despedida do Paulão, que nos deixará por algumas semanas, foi excelente! Espero que ele se lembre da gente lá na França e pague algum excesso de peso na volta.

A família reunida...

16 comentários:

  1. Bela noite Flavitz,
    Novamente o Castello di Brolio ganhou a noite e o Chianti a grata surpresa.Concordo que para o Muga e o Barbaresco faltou tempo para respirarem e a comida não combinava tanto.Agora você falar que aquele Quinta do Arouce lhe encantou?
    TOM,
    ABRA A ADEGA E FECHE O ARMÁRIO!!!
    ABS JP

    ResponderExcluir
  2. Carissimo JP!
    Pois é, mais uma noite de destaque. Mas como eu te disse, a maioria dos vinhos era certeza de agradar, ainda mais o Brolio, que já haviamos tomado antes e não tinha como errar. Mesmo o Capraia, que é de um grande produtor. O Barbaresco foi surpresa, pois não é conhecido e nem aparece na página do produtor. Acho que foi uma experiência dele, que investe mais em outros vinhos. Mas o Arouce foi para mim o destaque. Não é a toa que até o Parker, no seu estilão internacional, considera a Quinta de Foz de Arouce a melhor produtora de vinhos com a Baga em Portugal (superando até o grande Luis Pato). Você vai mudar de opinião... rs.
    abração,
    Flavitz

    ResponderExcluir
  3. Flavitz,
    o Barbaresco pode ser desconhecido mas dá uma olhada na Barolo do filme do Didú,é Dessilani.
    Abs, JP

    ResponderExcluir
  4. Pois é... Eles também devem ter concorrentes ao troféu "Palo Alto"! kkkk!!! Mas o fato é que a Dessilani, apesar de ser secular, parece ser muito mais conhecido por seu Gattinara e Ghemme que pelos Barbarescos e Barolos.
    Abs,
    Flavitz

    ResponderExcluir
  5. Flávio, nos bagas, qual seria o melhor para você o Buçaco ou esse Foz de Arouce?

    Abs.,

    Roberto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agora você me apertou, Roberto...rs. Os dois são grandes vinhos. Duas jóias que me fazem salivar só de lembrar. Mas eu dou uma cabeça de frente ao Buçaco.
      Grande abraço,
      Flavio

      Excluir
    2. Adquiri um Buçaco na Mistral. Trata-se de um 2004. Junto com ele, um Vinha Barrosa 2005 de Luis Pato. Achas que eles estão no ponto para serem bebidos ou há ainda possibilidade de guarda?

      E ainda tenho algumas garrafas do já citado Quinta da Dona, também 2004. Dá para fazer uma bela farra de vinhos da Bairrada.

      Abraço forte e obrigado mais uma vez,

      Flávio.

      Excluir
    3. Que compras, hein Roberto! O Buçaco 2004 é uma coisa de louco. Um vinho de pegada, complexo, vivo, vibrante, e que não cansa nunca na taça. Uma beleza! De primeiríssima! Pede um prato forte. E dá para fazer uma briga de cachorro grande com o Vinha Barrosa...rs. Este último eu não sei, mas o Buçaco já pode ser bebido, embora aguente ainda muito tempo em adega. É muito legal acompanhar sua evolução em taça, desde o primeiro, até o último gole. Uma beleza de vinho.
      Quanto ao Quinta da Dona, preciso experimentá-lo. Logo que encontrar, vou colocar na cesta.

      Grande abraço!

      Flavio

      Excluir
  6. Flavio, meu caro, comprei duas garrafas do bem dito Foz de Arouce na Decanter. Considerei o preço, R$ 234,00, muito bom, tendo em vista o preço dele em Portugal.

    A propósito, tomei o Buçaco - o 2004 - numa confraria na última sexta-feira. Vinhaço mesmo. Mas ainda acho que ganhará com a guarda. Na dita confraria, meu caro, ainda foram tomados: Pêra Manca 2008 (bem fechado ainda), Quinta do Vale Meão 2009 (excepcional, embora ainda vá ganhar muito com a guarda. O aroma de especiarias estava, simplesmente, maravilhoso), Cortes de Cima Reserva 2004 (o único que, a meu ver, não ganharia nada com a guarda. Mais do que pronto para ser abatido) e Duas Quintas Reserva Especial 2004, apesar da idade ainda tende a evoluir. É parecido com seu irmão menor, o Reserva, mas, penso, num nível um pouco superior.

    Ah, eu levei o Buçaco; os outro foram colocados pelos colegas.

    Abraço forte,

    Roberto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Roberto,
      Realmente o preço do Arouce é bom aqui (que os importadores não nos leiam...rsrs). É um vinhaço! Depois me diz o que achou.
      Rapaz, estou aqui babando com a degustação de vocês. Só vinhaços!!! Nem vou perguntar qual você mais gostou, pois seria injustiça com os outros. Quando o nível é alto assim, nem dá para eleger um, só apreciar todos!!! Parabéns pelas escolhas.

      Abraços,

      Flavio

      Ps. Eu ainda não bebi, mas dizem que o Buçaco branco é sensacional.

      Excluir
    2. Flavio, muito embora você não tenha querido perguntar, digo-lhe que, sem demérito a nenhum, minha relação é a seguinte: 1) Meão; 2) Buçaco; 3) DQ Reserva Especial; 4) Cortes de Cima e, por fim, por ainda estar muito fechado (notadamente no aroma), o Pêra Manca, que, como se sabe, é o mais caro. Ele foi comprado, segundo o amigo meu que o levou numa promoção por R$ 619,00, o que ainda é algo muito salgado. Uma coisa precisa ser dita, muito embora seja um infante, este 2008 é bem fácil de beber, talvez seja a batuta de Michel Rolland, não achas? Mas, por certo, não é um vinho para ser bebido agora. Fizemos o trivial: decantação por duas horas, taças adequadas etc. A guarda (e longa), todavia, se faz necessária.

      Agora, levando em conta de que o Quinta do Vale Meão degustado também é novíssimo (2009), de modo que deveria, se não fosse aberto, uma longa e importante evolução, acho que, num eventual confronto entre os dois, ele bate o Pêra Manca. Ponto para o Douro aqui, penso.

      A propósito, em termos de alentejanos, desprezando uma eventual relação custo-benefício, poderíamos dizer que o top 5 seria o seguinte: 1) Pêra Manca; 2) Quinta do Mouro - Rótulo Dourado; 3) Mouchão Tonel 3-4; 4) Marias da Malhadinha e talvez, em 5), o Dúvida do Saramago?

      Abs.,

      Roberto.

      Excluir
    3. Oi Roberto,
      Acho que sua sequência seria a minha, inclusive, pela colocação do Pêra Manca. Infelizmente, nunca tive muita felicidade com este vinho. Na sua lista abaixo, dos alentejanos, eu o colocaria em último. Ainda não bebi o Quinta de Mouro Rótulo Dourado, mas pelo seu irmão menor, Quinta do Mouro, imagino ser um vinhaço. O Mouchão Tonel 3-4 é uma beleza e o Malhadinha, outra. Quanto ao Dúvida, do Saramago, que também não bebi, ouvi todos os elogios do mundo prá ele. Um amigo diz que para ele, é simplesmente o melhor vinho português. E eu não sei se o Torre de Esporão não teria lugar nessa lista...rs.
      Ah, em relação a influência do dedo do Michel Roland, sem dúvida deve estar nas novas versões do Pêra Manca. Algumas pessoas já me disseram que o vinho é mais internacional e mais pronto para beber.
      Grande abraço,
      Flavio

      Excluir
    4. É, Flávio, pensando bem há vários outros. Por exemplo, o Julio B. Bastos - Alicante Bouchet, os próprios Grous Reserva e Marques de Borba Reserva, que, embora de preços mais "módicos", não devem muito aos outros citados.

      O Malhadinha a que me refiro é o Marias, o topo da gama. Há também o Malhadinha Tinto, da Vaca Matilde, vinho na faixa do Grous Reserva e do Quinta do Mouro. Esse já provei: excelente. O Marias deve ser algo fenomenal.

      Há também o Avó Sabica, o Incógnito e o próprio Cortes de Cima Reserva. Já provastes algum destes?

      Abs.,

      Roberto.

      Excluir
    5. Realmente há muitos, Roberto! Você lembrou muito bem do Julio Bastos, um vinhaço! E também do Grous Reserva e Marques de Borba Reserva, ambos grandes vinhos (o Marques de Borba é considerado pelo Amarante o melhor tinto do Alentejo). O Malhadinha eu já provei, mas ainda não o Marias, que também penso deve ser um vinho grandioso, assim como os últimos 3 que você cita (que ainda não bebi). Tenho muita curiosidade em experimentar o Avó Sabica.
      Abraços,
      Flavio

      Excluir
    6. Flavio, meu caro, são muitos ainda para serem, no mínimo, degustados. Quem sabe um dia, se você vier aqui por essas bandas, nós não fazemos uma mini-confraria com alguns desses?

      Abs.

      Excluir
    7. Seria ótimo, Roberto! E a recíproca é verdadeira: Vindo por aqui, dê um alô para mandarmos ver em alguns bons vinhos portugueses.
      Abraços,
      Flavio

      Excluir