Nosso Raimundinho, em foto quando tinha 70 anos, e muita destreza... |
Há 8 anos fiz uma postagem aqui no blog, em que comparava meu amado Pai com um Barolo. A postagem era curta, direta, como ele era:
"Se ele fosse um vinho seria um bom Barolo: Desconfiado, fechadão, até meio nervoso às vezes, mas com muita coisa para mostrar"...
Há uma semana ele nos deixou, e com ele, levou parte de nossas vidas.
Tenho lembranças maravilhosas de meu pai. Lembro de cada vez que chegava à tarde em casa depois de um dia cansativo de trabalho. Sua face sofrida, marcada pelo sol de todos os dias e do trabalho duro que desempenhou em toda a sua vida, trazia um sorriso largo, divertido e sincero. Ele não ria à toa. Ria quando achava graça, e pronto. Também não chorava. Minha amada Mãe disse que o viu chorar poucas vezes, e uma delas, foi no dia quando eu sai de casa para estudar em São Carlos. Ela disse que após me ver descendo a rua em direção à rodoviária, ele foi para o fundo de nossa casa, sozinho, e chorou, como poucas vezes fez na vida.
Eu tive a honra e o prazer de trabalhar com ele durante a minha adolescência (pois é... hoje criança não pode trabalhar...). Ele me ensinou uma profissão, mas mais que isso, me ensinou a ser honesto e me dava a alegria da convivência diária. O trabalho duro era compensado por momentos incríveis de muita alegria. As histórias do SôRai eram incontáveis. Era uma comédia ambulante. Suas tiradas eram incríveis e suas histórias dariam um belo livro. Quem sabe um dia? Mas são tantas, que não dá para contar aqui. Foram anos intensos de convivência. Os momentos foram muitos, em casa, no trabalho, a torcida pelo nosso amado Vasco da Gama, as pescarias... Quantos momentos! Meu pai, Vascaíno de coração, me ensinou a torcer pelo time que tinha uma "filial" em Passos. Como vivo em São Paulo, todos costumam me perguntar: "Por que torce para um time do Rio"? Não precisaria responder, mas hoje, tenho uma só resposta: "Por que aprendi com meu pai"! E quantos momentos torcendo, ouvindo jogos pelo rádio, partidas transmitidas pelo Jorge Cury, Waldir Amaral ou pelo "Garotinho" José Carlos Araújo. Quantos gols do Roberto Dinamite comemoramos juntos! Ele amava rádio... Não gostava muito da TV. À tarde e à noite, ouvia todas as notícias sobre o futebol, ansioso esperando pelas notícias do Vascão. Eu sempre ouvia com ele. Eram momentos ímpares, que me enchiam de felicidade! Quando vim para São Carlos, perdi muito de tudo isso, mas ainda curtia muito a presença do meu querido Pai quando ia a Passos.
Mas os anos foram passando, e meu gigante de menos de um metro de sessenta, foi envelhecendo. Mas era incrível vê-lo, com mais de 70 anos, subindo em casas e prédios, e andando nas beiradas deles, sem o menor medo, e ainda fazendo gracinhas que nos deixavam todos morrendo de apreensão. Como ele gostava de fazer isso! Era um dos poucos em Passos que se arriscava em telhados das altas igrejas de lá, com uma cordinha simples amarrada na cintura. Era corajoso e, acima de tudo, tinha um equilíbrio invejável! Mas um dia abusou e caiu de cima de uma escada, quebrando a bacia. Na época, fiz até uma música brincando com o episódio...rs. E ele dizia: "Rapaz bobo"...rs.
Mas como um bom Barolo, ele envelheceu... Os anos e o serviço pesado foram impiedosos. E o levaram de nós.
Neste dia dos pais, quando queria estar com ele lá em Passos, celebrando, estou aqui chorando para conseguir terminar este texto, que é curto para o tanto que seria necessário para falar de meu SôRai... E não há outra maneira de terminar a não ser dizendo que lhe amo muito, que sou orgulhoso de ser seu filho e que será sempre o meu herói!
Prezado Flávio !
ResponderExcluirQue belo texto e que bela homenagem ao seu pai!
Parabéns
Grande abraço.
Paulo Umpierre
Prezado Paulo!
ExcluirPrimeiramente, perdão pela grande demora na resposta. Tive problemas com o blogger, que deixou de me comunicar os comentários, e não os vi. Mas já repararam isso e estou respondendo a mensagem dos amigos.
Muito obrigado por sua mensagem!
Grande abraço,
Flavio
Querido Flavio, que triste notícia.
ResponderExcluirMeus sentimentos ao amigo e a toda família.
Um forte abraço nesse difícil momento.
Querido amigo Alexandre!
ExcluirPrimeiramente, como disse ao Paulo no comentário anterior, perdão pela grande demora na resposta. Tive problemas com o blogger, que deixou de me comunicar os comentários, e não os vi. Mas já repararam isso e estou respondendo a mensagem dos amigos.
Muito obrigado por sua amável e consoladora mensagem. Ter o apoio dos amigos nos dá força para passar por este momento triste.
Um grande abraço,
Flavio
Sinto muito pela sua perda, meu amigo. Por mais que saibamos que todos iremos passar por isso, nunca estaremos preparados para tanto. Pelo belo texto que escreveu, seu pai teve uma vida plena, que isso sirva de conforto para você e sua família. Com certeza você foi motivo de muito orgulho a ele. Forte abraço.
ResponderExcluirCaríssimo amigo Felipe!
ExcluirPrimeiramente, perdão pela grande demora na resposta. Como disse acima, tive problemas com o blogger, que deixou de me comunicar os comentários, e não os vi. Mas já repararam isso e estou respondendo a mensagem dos amigos.
Muito obrigado pela mensagem consoladora. Pois é, apesar de sabermos que vamos passar por estes momentos, nunca estamos preparados, e sofremos... Sim, meu pai teve uma vida plena, fez as coisas simples e boas que gostava e aproveitou muito a família e amigos. Ele adorava falar do filho dele que mora em São Carlos...rs. Isso me deixava (e deixa) muito feliz.
Muito obrigado, meu amigo! E esteja sempre por aqui. Espero voltar à ativa, com regularidade, em pouco tempo.
Um forte abraço,
Flavio
Boa tarde Flávio!
ResponderExcluirLamento muito a irreparável perda! Que Deus ajude e conforte Você e seus familiares nesse momento tão difícil!
Muita Força!
Marcelo
Blumenau-SC
Boa noite, amigo Marcelo!
ExcluirPrimeiramente, perdão pela grande demora na resposta. Tive problemas com o blogger, que deixou de me comunicar os comentários, e não os vi. Mas já repararam isso e estou respondendo a mensagem dos amigos.
Muito obrigado pelo seu gentil comentário. O pensamento positivo e confortante dos amigos, nos dá muita força e ajuda muito a passar por este momento de tristeza.
Um grande abraço!
Flavio
Belo texto, bela história, bela homenagem, me deparei com o blog em uma pesquisa sobre vinhos "depois que resolvi não ser mais aquela cebola dentro de uma salada de frutas" na seção de vinhos do supermercado "loja especializada então" nem entrava, pelo preconceito e falta de informação do assunto, não consigo mais parar de querer aprender sobre essa bebida milenar, ENFIM...parabéns pelo blog e meus honestos pêsames pela sua perda.
ResponderExcluirCaríssimo,
ExcluirMuito obrigado pelo gentil comentário e pelos pêsames. Fico muito agradecido e espero receber sempre sua visita.
Gostei da analogia da cebola na salada de frutas! Também já me senti assim muitas vezes. Aliás, ainda me sinto quando vou a algumas lojas de vinho e em vez de simplificarem as coisas, as complicam para o nosso lado. Por isso o consumo no Brasil ainda é tão pequeno perto de paises europeus e outros tantos do novo mundo. Espero que isso mude um dia.
Mas é mesmo um mundo incrível este do vinho, não? Quanta variedade, quanta história que acompanha esta bebida milenar. E nas nossas vidas, sempre presente, tornando os momentos inesquecíveis.
Espero mais comentários!
Abracos,
Flavio