sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Momento de tristeza: Sensei Sasaki partiu

Sensei Sasaki. 8o Dan Shotokan pela Japan
Karatê Association. Figura adaptada do site:
http://www.fpktradicional.com.br
Quando iniciei minha pós-graduação em São Paulo, queria usar bem meu tempo, não apenas para os trabalhos científicos, mas também, para cuidar do meu corpo e mente. Sempre pratiquei esportes, e era iniciante no Karatê. Fui ao Centro de Práticas Esportivas da USP querendo me matricular na arte das mãos vazias. Informaram-me, no entanto, que o semestre já havia se iniciado, e que se eu quisesse, teria que falar diretamente com o professor. Mal sabia eu que se tratava do Grande Mestre, Sensei Yasuyuki Sasaki. Era uma terça-feira e havia aulas à noite. Fui então um pouco antes da aula começar, já com meu kimono, falar com o Sensei sobre a possibilidade de praticar Karatê. Ao entrar no ginásio, ainda vazio, me deparei com uma figura imponente e ao mesmo tempo calma, sentada no dojô realizando seu aquecimento. Ele era assim, sempre chegava antes dos discípulos. Caminhei em direção a ele, me sentei em posição de respeito e o cumprimentei. Ele olhou para mim, pediu um tempo, e depois de alguns minutos foi falar comigo. Disse-lhe de minha vontade, e ele, rapidamente, buscou um diário que trazia os nomes dos alunos. Passou o olho por ele e riscou um dos nomes, de um aluno que já havia faltado quatro vezes, colocando o meu no lugar. Obviamente, fiquei muito feliz e lhe perguntei quando iniciaria. Ele respondeu surpreso: "Agora! Você não está de kimono? Entrou no lugar de alguém que já tinha 4 faltas, portanto, não pode faltar mais". Fiquei feliz e fiz meu primeiro treino. Aliás, não foi meu primeiro treino como aluno do Sensei Sasaki - Foi meu primeiro treino de Karatê! Considerei que aquele era meu início, que tudo que havia feito antes, era nada. E tinha toda a razão. Nos incontáveis treinos, extenuantes, como sempre, tive o prazer de desfrutar dos ensinamentos de um grande mestre. Fui um privilegiado! Além dos refinados ensinamentos técnicos, recebi do Sensei grandes lições de caráter. Lembro-me de inúmeras conversas que tivemos, no CEPEUSP ou nos famosos Gashukus em São Roque. Algumas delas, me deram força para superar as inúmeras dificuldades que passei. Certa vez, no final de um treino, entre dezenas de alunos, ele olhou para mim e me convidou para tomar um suco de laranja na cantina do CEPÊ. No caminho, me disse que havia notado que eu estava passando por dificuldades. Com toda a sua filosofia e sensibilidade, o Sensei Sasaki foi me dando força, por meio de suas metáforas e experiência de vida. Nesta conversa, especificamente, ganhei forças para concluir meus trabalhos e continuar em frente. O Sensei fará muito falta. Ele representou muito para o Karatê brasileiro. Formou um número imenso de Karatecas que hoje, perpetuam seus ensinamentos. Ele não era um Professor de Karatê. Era um Mestre! Não ensinava um esporte, e sim, uma Arte Marcial. Sensei Sasaki não era, Sensei Sasaki é! Hoje foi um dia triste, de recordações e muita gratidão ao mestre que tive o prazer de ter. Hoje, em sua homenagem, farei o Kata Hangetsu, que ele gostava muito (e eu também). 

Oss!



2 comentários:

  1. Grande Flavio!
    Muito legal compartilhares essa experiência de vida.
    Um brinde ao Mestre, saúde!

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  2. Grande Alexandre!
    Pois é, meu amigo... A gente tem que aproveitar os bons momentos, pois os tristes, são inevitáveis. O Mestre Sasaki teve uma participação forte em uma fase muito importante de minha vida. Bem, depois dela também. Deixará saudades.
    Um brinde a ele!!!
    Obrigado pela mensagem, meu amigo!
    Abração,
    Flavio

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