Visitando o Restaurante Ruta del Azafran, em Granada, pude apreciar pela primeira vez os vinhos naturais espanhóis. Na ocasião, apreciei os vinhos da Bodega Barranco Oscuro, que muito me encantaram. O Rubaiyat, feito com a Syrah, é uma explosão de aromas, grande presença em boca e excelente mineralidade (veja aqui a postagem sobre o vinho).
Recentemente entrei em contato com uma loja em Granada que vende os vinhos da Barranco Oscuro e também de outras bodegas que produzem vinhos naturais. E assim, pude ir conhecendo um pouco mais destes vinhos e do caminho que alguns produtores espanhóis estão seguindo.
Mas o que é um vinho natural?
A Associação de Produtores de Vinhos Naturais da Espanha define, em sua página, como sendo aqueles vinhos feitos com uva natural, sem adicionar ou tirar nada desta uva. O resultado é um fiel reflexo da terra de onde nasce o vinho.
A Associação prega alguns princípios para seus associados, os quais estão presentes em sua página e que adaptei e coloco a seguir:
1. Cultivo com respeito ao meio ambiente
Pratica-se agricultura ecológica ou biodinâmica, ou simplesmente são seguidos métodos ancestrais, com a utilização de produtos naturais e respeito aos ciclos naturais. Os tratamentos utilizando enxofre ou sulfato de cobre são permitidos, mas devem se limitar ao imprescindível. Geralmente são tratamentos feitos no início da produção, não no final. NÃO SE USAM PRODUTOS QUÍMICOS, HERBICIDAS, PRAGUICIDAS, FUNGICIDAS SISTÊMICOS NEM ORGANISMOS MANIPULADOS GENETICAMENTE.
2. Compromisso com o ambiente natural
Além de usar uma agricultura respeitosa, deve-se manter um comportamento coerente na hora de canalizar recursos como a energia, o trabalho e a água. Os vinhos devem ser engarrafados em garrafas de vidro e devem ser utilizadas rolhas naturais. Deve-se praticar uma agricultura sustentável, gerando um mínimo de resíduos e, aqueles gerados, devem ser manejados de maneira adequada.
3. O vinicultor é o autor
O autor do vinho controla o vinhedo, é responsável pelos trabalhos realizados e toma as decisões. É indicado que os vinhedos sejam na propriedade e não se pode comprar uvas de vinhedos não controlados. O produtor deve trabalhar diretamente na produção e dedicar parte importante de seu tempo ao trabalho no vinhedo.
4. Autenticidade e singularidade
A uva deve refletir as condições da terra e colheita. Não devem existir elementos que distorçam a expressão da terra e da uva no vinho. É preferível o trabalho manual e artesanal. Se utilizada, a maquinaria não deve alterar as condições naturais da uva, do mosto ou do vinho. NÃO SE FILTRA NEM CLARIFICA O VINHO, PARA CONSERVAR SUAS CARACTERÍTICAS. NÃO SE UTILIZA LEVEDURAS COMERCIAIS nem qualquer outro produto para acelerar ou conduzir a fermentação alcoólica. Não se utilizam bactérias maloláticas para acelerar ou conduzir a fermentação malolática. Não se corrige a acidez (com ácido tartárico, cítrico ou qualquer outra substância) e tampouco se deacidifica. Não se adiciona açúcar (chaptalização) nem álcool. Não se adiciona ácido ascórbico, sórbico ou sorbato de potássio,, antibióticos ou aromas. Não são utilizados pedaços de madeira para aromatizar. Não se utiliza osmose reversa, concentração, criomaceração ou qualquer outra técnica que suponha a desagregação artificial dos componentes do mosto e do vinho. Não se filtra para não se eliminar componentes naturais e benéficos para a evolução natural do vinho.
5. Não se utiliza dióxido de enxofre (SO2)
O SO2 é prejudicial à saúde de quem com ele trabalha, causando irritação e outros males. Para o consumidor, acredita-se ser o causador da famosa dor de cabeça e ressaca pós consumo. Além disso, pode causar problemas para pessoas alérgicas. NÃO SE UTILIZA EM NENHUM MOMENTO. O vinho não deve ter SO2 adicionado. O SO2 total detectado por análises deve corresponder ao que foi gerado pelo próprio vinho no processo de vinificação.
6. Se diz o que se faz e se faz o que se diz
A honestidade e transparência são os valores principais dos produtores dos vinhos naturais. Todo o processo produtivo é informado. As análises químicas dos vinhos deverão estar sempre à disposição de clientes e consumidores, assim como o maior número de informações possível que demonstrem sua autenticidade. NÃO SE PODE OCULTAR INFORMAÇÃO.
7. Compromisso com a associação e associados
Os postulados da associação deverão ser compartilhados e defendidos. Deve haver colaboração entre os associados em todos os aspectos, inclusive técnicos. Os associados devem participar da associação ensinando e aprendendo. A terra deve ser trabalhada segundo as leis da natureza para a obtenção da melhor uva em cada ano. Os associados devem compartilhar experiências e ter o compromisso de melhora constante, defendendo a produção de vinhos naturais. Os sócios não podem participar de atividades que sejam contraditórias com os postulados da associação de produtores de vinhos naturais, seja dentro ou fora do setor do vinho.
Bem, todos os itens são bastante importantes, mas dois deles (4 e 5) são fundamentais para os produtores de vinhos naturais.
Em próximas postagens colocarei minhas impressões sobre alguns vinhos que um amigo me trouxe de Granada recentemente, da loja Al Sur de Granada, alguns deles naturais, outros ecológicos e biodinâmicos (para saber as diferenças entre eles acesse um artigo da Revista Adega).
Flavio, a autenticidade e baixo nível de So2 não garantem a qualidade do vinho, mas quando ele á bom e tem essas caracaterísticas, se torna imbatível, ao menos para mim.
ResponderExcluirForte abraço
Bem Eugênio, na verdade, acho que nada garante a qualidade de um vinho... a não ser, um bom produtor. Mesmo assim, de vez em quando escapa umas tranqueiras...rs.
ResponderExcluirGrande abraço,
Flavio