No ano passado adquiri alguns vinhos en primeur do Atelier Tormentas, de Marco Danielle, e os recebi na semana passada. Dentre eles, claro, o Fulvia Garagem Pinot Noir 2011. Após apreciar o 2009 (clique aqui), fiquei encantado e não poderia deixar passar esse, visto que a produção é pequena e logo será difícil encontrá-lo. E para apreciar um bom Pinot, ao estilo borgonhês, tem que seguir um ritual. Não é só "tufar" o vinho em uma taça qualquer e jogar goela abaixo. Tem que utilizar uma taça apropriada, ter calma, delicadeza e não pensar que está apreciando um Malbecão. No caso do Fulvia, exige ainda mais cuidado, pois o vinho é natural e como tal, deve ser aerado para liberar o CO2 que contém. Por isso, se tiver o prazer de apreciar um desses, coloque no decanter, agite vigorosamente e verá as bolhas se formarem na superfície. Faça isso algumas vezes e só depois aprecie.
E para mim, vinho pede comida. E como eu estava sem inspiração para cozinhar, resolvi visitar meu amigo Bart, Chef Belga do Restaurante Chez Marcel, que cozinha como ninguém. Bem, mas vamos ao vinho. Ele é feito com a mínima intervenção possível, utilizando leveduras selvagens e com pouca adição de SO2. E que beleza: Só 12% de álcool! Diferentemente do Fulvia 2009, que era 50% maturado em barricas, esse 2011 é totalmente maturado nelas, e a meu ver, isso lhe deixou ainda mais macio.
Que cor linda! |
Achei o vinho um pouco mais maduro e com mais estrutura que o 2009. Ao nariz, mostra notas de frutas vermelhas, morangos silvestres, especiarias e terrosas (que aparecem com mais tempo em taça). O vinho vai ficando cada vez melhor após decantação. Em boca, é intenso e macio , sutil e elegante (como disse meu amigo Bart, que o adorou. E olha que o Belga tem ótimo gosto, hein!). Tem ótima presença, acidez perfeita, é sedoso e com final persistente. Ou seja: Excelente! Como mencionei para o 2009, o Fulvia Pinot Noir não é apenas o melhor Pinot brasileiro, é para mim o melhor vinho nacional. Claro que é uma opinião pessoal, mas se tiver oportunidade, experimente e me diga. Parabéns Marco Danielle!
E como eu sabia que ia apreciar um ótimo vinho, tive que escoltá-lo com ótima comida. Dê uma olhadinha nessa Terrine de Coelho, que estava maravilhosa e no Filé com Creme de Espinafre feitos pelo Bart. Perfeitos com o vinho! No final da postagem transcrevo texto do Marco Danielle sobre o Fulvia 2011 (Nota do Vinhateiro).
Terrine de Coelho do Bart - Que beleza! |
Terrine |
Filé ao Creme de Espinafre - Ponto perfeito, como sempre! |
Pera à Bélle Hélène - Clássica |
NOTA DO VINHATEIRO (por Marco Danielle)
A safra 2009 desse rótulo foi o vinho de maior
repercussão da história do Atelier Tormentas. Quando Ed Motta e Didú Russo
declararam ser aquele o melhor vinho brasileiro então produzido, o peso da
responsabilidade aumentou frente à expectativa sobre a nova safra. Em 2010 a
colheita não alcançou o nível de qualidade esperado, e o vinho não foi feito -
dois bons motivos para em 2011 aumentar um pouco o volume produzido e zelar ao
máximo pelos resultados. A meta foi alcançada, e o Fulvia Pinot Noir 2011 deverá
ao menos se equiparar a seu predecessor - talvez com um leve ganho em acidez e
estrutura. Degustado em Julho de 2011, o vinho mostrava um matiz vermelho
levemente mais intenso que em 2009, o que traz algumas informações sobre a
safra e a vinificação: acidez e estrutura um pouco melhores; maior
estabilidade; menor oxidação; menores perdas fenólicas e aromáticas. Contudo,
essas mudanças ainda são muito sutis para fazer grande diferença. Sabemos que o
caminho é longo e o desafio é grande, e que ainda há muito a aprimorar e a
explorar no campo da misteriosa Pinot Noir, mas a busca obstinada por evoluir a
cada safra deverá ser administrada com prudência e parcimonia nos novos
experimentos envolvendo essa caprichosa casta, de forma a não desvirtuar os
traços de delicadeza e personalidade tão apreciados no Fulvia 2009. É mais
fácil controlar os resultados quando se faz vinhos tecnológicos, mas em
vinicultura natural os controles ficam restritos à estreita paleta de nuances
oferecida pela natureza. Ganhar acidez natural pode significar perder teor
alcoólico, e assim por diante. Portanto cada novo experimento deve ser feito
com prudência, evitando oscilações bruscas que distorçam o objetivo central:
elaborar um Pinot Noir de modo mais natural possível, inspirado na elegância,
no equilíbrio e na delicadeza de um bom borgonha. O plano para a safra 2011 foi
ganhar em estrutura e complexidade sem perder a sutileza. Para isso, parte das
uvas foi desengaçada e parte encubada em cachos inteiros, gerando uma
fermentação semi-carbônica clássica. Outra mudança radical em relação à safra
2009 é que a partir de 2011 o amadurecimento se dará totalmente em barricas,
rigorosamente escolhidas e testadas para neutralidade e sutileza. De 2011 em
diante, portanto, o Pinot Noir do Atelier Tormentas será inspirado em alguns
métodos ancestrais que pude conhecer pessoalmente na Borgonha. Outra meta para
essa safra foi suprimir as leveduras comerciais para a fermentação. Nesse
sentido, o Fulvia Pinot Noir 2011 pode ser considerado um vinho ainda mais
natural que o 2009, tendo também suprimido a adição de SO2 pré-fermentário. A
fermentação foi iniciada e terminada pelas leveduras selvagens provenientes do
próprio vinhedo - o que também indica uma provável moderação na política de
defensivos agrícolas aplicados às vinhas, sendo preservada a microflora de
leveduras indígenas e outros microorganismos incorporados à fermentação. Assim
sendo, poderíamos afirmar que o Fulvia Pinot Noir 2011 é fruto de uma
vinificação bastante natural.
Grande Flavio,
ResponderExcluirAcho que essa é a primeira resenha de algum novo vinho do Marco e a primeira do Fulvia Pinot Noir. Estou muito curioso para prová-lo, quando fizer te digo.
Essa terrine tá com uma cara maravilhosa!
Abraço
Grande Eugênio,
ExcluirAcho que fui mesmo o primeiro a me manifestar. Segundo ele, já recebeu diversos retornos elogiando o vinho. Eu gostei muito. Depois me fala o que achou. Estou curioso também para provar o Rosé e o Branco. Ele me disse que o Rosé é um vinho estruturado e pode envelhecer. Vou beber uma garrafa e guardar outra para daqui um tempo.
Rapaz, a Terrine estava boa mesmo! Pode deixar que quando vier aqui por São Carlos faremos uma visita ao Chez Marcel.
Abração!
Flavio
ps. Vai na degustação da Decanter?
Com certeza, mas no Rio!
ResponderExcluirCaramba! Mesmo sabendo que lá não estará o Domaine Rolet, Paul Mas e Pieropan???
ExcluirBrincadeira...rsrs...
Abraços,
Flavio
Um post escrito com emoção a gente percebe logo no início.
ResponderExcluirBom quando um vinho supera as já grandes expectativas.
Sou fã confesso da cor dos vinhos e esse exemplar realmente tem uma coloração maravilhosa.
E com 12% de álcool então...
Valeu, Flavio!
Bela postagem.
Amigo Alexandre,
ResponderExcluirMuito obrigado pela visita (de sempre) e pelos comentários gentis. É isso que nos incentiva a dividir nossas impressões com os amigos.
Realmente este vinho emociona, pela qualidade e por saber que foi feito aqui no Brasil. O Marco Danielle é uma pessoa apaixonada pelo que faz, e seus vinhos são produzidos com todo esmero. Este Pinot Noir impressiona. Se tiver a oportunidade, não deixe de experimentá-lo. Pelo seu gosto apurado, tenho certeza de que vai gostar muito.
Um grande abraço,
Flavio