quarta-feira, 20 de junho de 2012

3 Barolos no octógono: Are you ready?

Repito: Sou fã incondicional de vinhos italianos! Se for Brunello e Barolo então, me convide! E nesse último sábado o amigo Carlos André me convidou para uma briga de Barolos em sua casa. Recomendei então que já abrisse seus brigões, para que respirassem. Ao meio-dia ele abriu um Barolo Cannubi 2004, de Marchesi di Barolo e um Batasiolo do mesmo ano. Em casa, no mesmo horário, eu abri uma garrafa do Barolo Cascina Nuova 2007, da vinícola Elvio Cogno. Bem, a briga era as 20h00, e como todos sabem, Barolos gostam de respirar. Abrí-los e beber na hora pode ser um desperdício e causar estranheza a desavisados. Não se preocupe: Diferentemente de vinhozinhos meia-boca, eles não morrem facilmente. Pode abrir e deixar o bichão em decanter, exalando perfumes diferentes com o tempo. E é isso que me agrada neles: O jeitão camaleão! E quanto melhor o Barolo, melhor ele faz isso. E enquanto o Barolo que abri respirava em berço esplêndido, eu preparava um Cabrito ensopado ao Alecrim (com um toquezinho de Funghi Secchi ao final, para agradar nossos Barolos...rs). E o legal é de vez em quando pegar uma tacinha para ver como o bichão vai indo... E se deliciar com a metamorfose. Beber Barolo é um evento!
E às 20h30 começou a briga. Todos os Barolões já tinham descansado e já estavam prontos para serem apreciados mostrando suas qualidades. 
O primeiro deles, oferecido pelo Carlão, era um Barolo Beni di Batasiolo 2004. Eu havia dito ao Carlão que ele seria o menos potente deles. Realmente, tinha corpo médio, com notas de morango, framboesa, funghi, folhas secas e madeira. Em boca tinha médio corpo, com taninos presentes (como deve ser em um Barolo), mas já se acertando. O Carlão, com sua sinceridade e imparcialidade características, levantou um probleminha nele: A madeira saliente! Ele disse que no começo ela também aparecia, e não sumiu com o tempo. Como disse o Carlão, eram aromas de serragem, que incomodavam um pouco. Mas com o Cabrito, fez par perfeito! 
O segundo brigão era um Barolo Cascina Nuova 2007, de Elvio Cogno, levado por este que vos escreve. Eu já havia bebido belas taças desse vinho (clique aqui) em um jantar com o simpático produtor, Valter Fissore, após o evento do Gambero Rosso. Esse eu acompanhei desde a abertura e vi suas mudanças. No começo, claro, se mostrava mais fechado e agressivo, o que foi mudando com o tempo. Aos poucos, foi mostrando notas de nozes muito atraentes, em meio a funghi secchi, florais, framboesa e cereja. Tinha também um fundinho de mentol e tabaco, bem discretos. Dentre os três, apesar de ser mais novo, era o que mostrava taninos mais domados e a meu ver, mais equilibrio. O vinho era bem perfumado e acompanhou muito bem a comida.
O terceiro da noite foi levado pelo simpático casal Endrigo e Wania, e era um Barolo no estilo mais tradicional, mais potente, e que demorou bastante a se mostrar completamente. Era um Barolo Cannubi 2004, de Marchesi di Barolo.  O vinhedo Cannubi fica na confluência da região Tortoniana e Helveciana (esta última fica na porção leste da DOCG e origina vinhos mais poderosos e encorpados).   O vinho possuia notas de pétalas de rosa, framboesa, amoras maduras, nozes, café, alcaçuz e com o tempo mostrou notas tostadas e de chocolate deliciosas. Em boca era potente, como esperado, e com taninos presentes, mas bem domados. No começo, era um toro indomável, mas com o tempo, foi o que mostrou a evolução mais perceptível. Lembro-me de uma vez ter levado um Sarmassa 2001, do mesmo produtor, para beber com amigos, sem a devida preparação: Bola fora! Todos acharam pesado, fechadão... Mas lembro também, que no final da noite, ao cheirarem o finalzinho que ficou no decanter, ficaram estupefados. Barolo é isso! É um dos motivos que me fazem gostar deles. São temperamentais, parrudos, cheios de personalidade. Tempos atrás coloquei uma definição dada a eles por Didú Russo, que transcrevo aqui: "italianos bravos, fechados, cismados, mas que no fundo, é tudo fachada, pois têm um coração de criança".
Isso aí! Os Barolões brigaram e quem ganhou foi a gente!  

ps. Veja os comentários do Carlão sobre a noitada, em seu blog (clique aqui).

9 comentários:

  1. Noite top, Flávio!
    2ª feira, caio matando nos Barolos do Pio Cesare, lá no Decanter Wine Show in Rio! Pena que vai ser aquele esquema: da garrafa pra taça... quase um desperdício, como vc bem alertou. Mas, se não tem outro jeito, lá vamos nós!
    Abç.

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    1. Obrigado Vitor! Realmente estava ótima! Então na segunda você vai mandar ver nos Barolões do Pio Cesare? Que maravilha! Bem, mesmo não descansando muito (ou quase nada), tenho certeza de que darão muito prazer. A gente fica com vontade de deixar na taça um tempão... mas aí, a degustação acaba... rs. Depois coloca no blog o que achou do evento. Eu quero muito experimentar os vinhos do Jura (e mais uns 30 ou 40...rsrs).
      Abraços e boa degustação!

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  2. Blz Flávio

    Ótimo seu blog, sempre muito instrutivo..parabéns.
    Tira uma dúvida...usando o decanter..como vc faz para manter a temperatura do vinho

    Abs
    Orlando

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    1. Caríssimo Orlando,
      Muito obrigado pela visita e elogios! Fico muito feliz e incentivado a continuar postando.
      Sua questão é muito pertinente. Geralmente, a maneira mais fácil é colocar o decanter em um recipiente baixo, com gelo e água, sempre com o cuidado de não colocar muito gelo. Pode até parecer meio trabalhoso, mas não é. Ah, é sempre bom colocar uma redinha, como aquelas peneirinhas de cozinha, tampando a boca do decanter. Mosquitos adoram vinhos, principalmente Barolos! rsrs...
      Um grande abraço e visite sempre o Vinhobão. Seus comentários serão sempre bem-vindos!
      Flavio

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    2. Complementando: Decanters com formatos complexos impõem mais dificuldades. Nesse caso, o adequado é que eles fiquem em salas climatizadas...

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  3. Caro Flávio, como vc sabe, sou apaixonado tb por vinhos italianos. Excelente texto, de deixar com agua na boca. Abraços, Mazzei

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    1. Caríssimo Rodrigo,
      Obrigado pela visita de sempre e comentário! Sem dúvida divido com você a paixão pelos vinhos da Bota. Espero que um dia possamos apreciar alguns deles juntos. Aliás, hoje reservei meu convite para o Encontro Mistral. Irei dia 16 de julho em São Paulo. Você vai?
      Grande abraço,
      Flavio

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    2. Estou meio enrolado e pretendo ir para a Argentina em julho. Acho que as datas vão bater.... Vamos ver se consigo me desenrolar.. Seria legal estarmos juntos no evento, que promete. abraços, Rodrigo

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    3. Sem dúvida Rodrigo! Se as datas não baterem e você conseguir ir ao evento será muito legal. Quando estiver próximo nos comunicamos.

      Abraços,
      Flavio

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