segunda-feira, 2 de junho de 2014

Boa briga, às cegas: Castillo Ygay Gran Reserva Especial 2004, Don Melchor 2006 e Brunello di Montalcino Castello Banfi Poggio alle Mura 2004

O Carlão resolveu servir, às cegas, 3 vinhões de sua adega que tivessem idades parecidas e preços similares no exterior. Os três, do título da postagem, custam mais ou menos a mesma coisa lá fora (só o Brunello é um pouco mais caro). De começo, claro, sabíamos que eram vinhos de qualidade. O único que eu ainda não havia bebido era o Brunello Banfi Poggio alle Mura 2004. De cara, todos concordaram que o decanter que trazia o Don Melchor 2006 tinha o vinho mais pronto para beber. E olha, não deu para matar a procedência. A suspeita de ser um Bordeaux surgiu entre os bebuns. Estava redondinho, sedoso, sem arestas. Prontinho, prontinho... Mas para mim, ele ficava um degrau abaixo dos outros dois vinhos, também devidamente decantados por 2 horas. 
Logo que provei o conteúdo do decanter que continha o Castillo Ygay Gran Reserva 2004 me surpreendi com a fruta concentrada, bastante ameixa, em meio a tostado e chocolate. Até pensei se tratar de um australiano, nacionalidade que o Carlão aprecia bastante. Mas como lembrado pelo Akira, ele tinha um toque cítrico que fugia ao padrão australiano. Este foi difícil. E olha que já havia bebido este mesmo 2004 em duas ocasiões (clique aqui). Mas das outras vezes, foi aberto e vertido na taça, sem decantação prévia. Isso pode ter feito diferença. O fato é que nesta garrafa senti excesso de fruta e extração. Recentemente, lendo uma postagem do colega Silvestre Tavares, do Vivendo a Vida, vi que ele teve impressões similares em respeito ao mesmo vinho. Obviamente, é um vinhão. Mas eu gostei mais das outras duas vezes que bebi. Bem, cada garrafa é uma garrafa. No entanto, para mim fica patente uma coisa: O 2001 foi o melhor Ygay que já bebi (clique aqui). Dá um baile no 2004.
E a terceira garrafa? A terceira trazia o vinho que mais me chamou a atenção ao nariz (e também, a mais polêmica). Era o Brunello di Montalcino Banfi Poggio alle Mura 2004. Ninguém acertou se tratar de um Brunello! Parece incrível, mas foi assim. O vinho tinha aromas complexos, florais, de framboesa e cassis, em meio a especiarias. Sem inspiração, mas encantado com a riqueza do vinho, eu disse que ele me lembrava aromas de um Viñedo Chadwick que havia bebido tempos atrás. Como? Senti aromas de Cabernet Sauvignon em um 100% Sangiovese??? No entanto, mesmo com esta ressalva, ele foi, para mim, o melhor vinho da noite. Aromático, complexo, intenso em boca, acidez vibrante e final longuíssimo. Um vinhão! Bem, os 3 eram... Briga de cachorro grande.
Boa experiência, Carlão! 

8 comentários:

  1. Que grande embate, Flavio!
    Muito interessantes os ensinamentos que uma degustação às cegas proporciona (e as gargalhadas tb - rs).
    Legal isso de achar notas de um vinho em outro que, em regra, não deveria ter similaridade. Esses dias, um tempranillo me lembrou um barbaresco que bebera no passado. Pode?
    Como diria o "sábio": "É tudo uva" (rs).
    Abraço!

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    1. Oi Alexandre,
      Realmente um grande embate! As degustações às cegas são legais. Embora eu ache que para grandes vinhos, com muita história nas costas, elas devam ser evitadas. Quando o vinho é dos grandes, vale senti-lo desde o começo, sem neuras, bem devagar...rs.
      Quanto às notas de um vinho em outro, às vezes acontece. Na verdade, acho que está acontecendo mais que eu desejaria. Bons tempos aqueles em que os vinhos tinham o carimbo da nacionalidade. Mas o fato é que todos estavam muito bons.
      Grande abraço,
      Flavio

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  2. Flavio, bela postagem. Parabéns. Ainda bem que optei pelo Castillo Ygay Gran Reserva Especial 2001, no lugar do 2004. Não entendo essa mudança de estilo numa vinícola tão tradicional, e numa safra tão boa. Acho que só vai sobrar mesmo a Vina Tondonia na tradição riojana.

    Outra coisa, por mais que o vinho seja bom, penso que é inadmissível brunello com jeito de cabernet e/ou merlot. Gosto muito de bons cabernets e merlots, inclusive italianos, mas se compro brunello quero o que há de melhor na sangiovese. Por certo, principalmente em se tratando da Banfi, isso deveu-se ao "brunellogate". Ao que parece, ele está de volta. Mais uma vez, parece que só vão sobrar poucos lá em termos de tradição, como Biondi Santi e Soldera.

    Abs.,

    Roberto.

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    1. Grande Roberto,

      Obrigado! Olha, você fez uma bela escolha pelo Ygay 2001. Eu bebi o 2004 em tres oportunidades, e em nenhuma, bateu o 2001 (apesar de ser ótimo, claro). Mas eu achei que o 2004 teve muito destaque para a fruta. E por falar em Tondonia, logo postarei sobre o Gran Reserva 1991... Que vinho!!! Tradição pura!
      Quanto aos Brunellos, estou com saudade daqueles tradicionais. Eu quero sentir o gosto de Sangiovese quando bebo um. Ah, além destes que você cita, eu colocaria na lista dos tradicionais o Canalicchio di Sopra e o Capanna. Deste último consegui pegar umas garrafas na Viavini, que infelizmente, não tem mais. É incrível, mas ele não tem importador para o Brasil. Enquanto isso, chove Brunello desconhecido e modernoso no mercado...

      Abraços,

      Flavio

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    2. Soldera não tem mais, a máfia queimou os vinhedos de brunello desse produtor

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    3. Caramba, Hëlio! Esta eu não sabia. Só conhecia o caso do malucão que abriu os tonéis jogando os vinhos no ralo.
      Abraços,
      Flavio

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  3. Flavio,
    Acredito que não tenha percebido a sangiovese no Banfi, pois o mesmo é de propriedade de dois americanos e fazem o vinho especificamente para o mercado americano, sempre obtendo altas pontuações por lá. Não duvido nada que o mesmo leve uma pitada de cabernet ou merlot.

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    1. É Márcio, mais uma vez o mercado ditando as regras... Vamos ter que selecionar os poucos produtores que mantêm a tradição.
      Grande abraço,
      Flavio

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